Lenta retomada da produção, que subiu 1% em abril ante março, não impede cortes
Demissões crescem pelo sétimo mês; Estados de MG e SP, em especial nos setores de vestuário e produtos de metal, são os mais afetados
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Abalado pela crise, o mercado de trabalho industrial não sentiu ainda a discreta melhora dos indicadores de produção. Em abril, o emprego caiu 5,6% ante abril de 2008 e chegou à menor marca da série histórica do IBGE, iniciada em 2001.
Na comparação livre de influências sazonais com março, houve retração de 0,7%. Trata-se da sétima taxa negativa consecutiva. Nesse período, a perda acumulada chega a 6,6%.
Outros dados da pesquisa também revelam a deterioração. O número de horas pagas na indústria, um indicador antecedente de eventuais contratações futuras, recuou 0,4% em relação a março. Também em queda por sete meses consecutivos, o índice acumula uma retração de 7,1% no período.
Imune à crise até fevereiro, o rendimento na indústria já sente os reflexos da perda de ritmo do setor: a folha de pagamento da indústria cedeu 0,2% em relação a março e 1,8% na comparação com abril de 2008.
Todos esses dados mostram que o mercado de trabalho da indústria não se beneficiou ainda da “gradual” recuperação do nível de produção, segundo afirma André Macedo, economista da Coordenação de Indústria do IBGE.
“O mercado de trabalho não refletiu ainda a reação, ainda que modesta, da produção. Pelo contrário, até a folha de pagamento já começa a sentir os efeitos da freada da indústria.”
Em abril, a produção cresceu 1,1% ante março, na quarta taxa positiva neste ano. Já em relação a abril de 2008, o setor recuou 14,8%.
Sem contratações
Para Macedo, o fato de o volume de horas pagas não estar crescendo revela que a indústria não deve voltar a contratar tão cedo. Isto porque primeiro os empresários lançam mão de horas extras para só depois abrirem novas vagas.
Segundo Macedo, a pesquisa traz uma “difusão de resultados negativos” em abril. Já o Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial) vê uma melhora modesta nos dados de emprego do setor.
É que as taxas têm sido, mês a mês, “menos negativas” tanto no caso do emprego como no de horas pagas, de acordo com o instituto.
“Apesar de ser negativa, a variação [de abril] é bem melhor do que a registrada em março”, diz o Iedi, em relatório. Pelos dados do IBGE, as horas pagas haviam recuado 1,1% de fevereiro para março, e o emprego registrara queda de 0,8%.
“Há uma perspectiva futura menos negativa para o emprego na indústria. Isso tanto do ponto de vista regional como setorial.”
Segundo o IBGE, os setores que já vinham com fraco desempenho, como vestuário e calçados, aprofundaram as perdas. Já os ramos que sentiram com mais força o baque da crise passaram a registrar taxas negativas.
Setorialmente, as quedas mais relevantes no emprego em abril ficaram com vestuário (-9,7% ante abril de 2008), meios de transporte (-9,4%), produtos de metal (-10,2%) e máquinas e equipamentos (-8,5%). O emprego cedeu em 16 dos 20 ramos pesquisados.
Por região, os piores resultados ficaram com São Paulo (queda de 4,2% ante abril de 2008) e Minas Gerais (-7,2%).