Acordos negociados esta semana podem dar 55% da empresa ao sindicato e 35% à Fiat
Agências internacionais, DETROIT E WASHINGTON
Primeiro, foi a General Motors que anunciou um plano de reestruturação pelo qual pode passar a ser controlada pelo governo dos EUA – um contrassenso para os padrões americanos. Mas o destino de uma outra grande montadora do país, a Chrysler, pode ser ainda mais inusitado: a empresa pode passar a ser controlada pelo sindicato dos trabalhadores. Um acordo fechado no domingo dá ao poderoso United Auto Workers, o sindicato dos trabalhadores do setor automotivo nos EUA, a possibilidade de ficar com 55% das ações da Chrysler após a reestruturação da companhia.
O acordo entre o sindicato e a empresa, que prevê perdas de vários benefícios para os funcionários, terá ainda de ser aprovado em assembleias que devem terminar hoje. Pelo plano apresentado pelo UAW aos empregados da empresa, a italiana Fiat ficaria “eventualmente” com 35% da montadora, enquanto o governo dos Estados Unidos e os credores da companhia teriam, juntos, os 10% restantes.
Além do acordo com os trabalhadores, a Chrysler também ficou mais perto de fechar um acordo com bancos e fundos que detêm créditos de US$ 6,9 bilhões com a empresa. O Tesouro dos Estados Unidos chegou ontem a um acordo provisório com os bancos que detêm a maior parte dessa dívida, mas o acordo ainda tem de ser aprovado pelos mais de 40 credores da montadora, de acordo com fontes próximas da conversações. Se o acerto for fechado, será um passo importante para consolidar uma aliança com a Fiat e evitar uma concordata da montadora americana.
Mas não há nenhuma garantia de que essa reestruturação de dívida será apoiada pelos credores da Chrysler e um pedido de recuperação judicial ainda é possível, segundo as fontes. Com base no acordo firmado na noite de segunda-feira, seriam eliminados os US$ 6,9 bilhões de títulos de dívida em troca de US$ 2 bilhões em dinheiro.
“É uma enorme concessão que os bancos estão fazendo”, disse uma fonte, acrescentando que esse acordo não subentende que os credores terão alguma participação patrimonial na empresa. Mas ainda há uma possibilidade de uma “concordata cirúrgica”, se for necessário “arrastar os bancos recalcitrantes”. Não foram divulgados outros detalhes do acordo e representantes dos credores da Chrysler e do Tesouro não foram encontrados para comentar o assunto.
O acordo entre a Fiat e a Chrysler pode ser decidido bem próximo do prazo limite fixado pelo governo (30 de abril), disse o vice-chairman da Fiat, John Elkann. “Até o final não teremos ainda muitos detalhes”, disse ele, acrescentando que está em contato com o presidente executivo da Fiat, Sergio Marchionne. As negociações entre os credores da Chrysler, o UAW e a Fiat vêm sendo realizadas paralelamente.
RISCO
Os credores estão cautelosos quanto ao risco de o governo Obama tentar forçar um acordo que favoreça o sindicato. “O acordo firmado com os principais bancos credores da Chrysler é uma conquista excepcional, em linha com o firme compromisso do presidente, no sentido de que todos os envolvidos se sacrifiquem para o acordo ser bem-sucedido”, disse um funcionário do governo.
O deputado republicano Gary Peters, de Michigan, onde se encontra a sede da Chrysler, insistiu para os credores da montadora aceitarem o acordo. “Os credores remanescentes precisam compreender que este acordo é melhor do que o que poderiam esperar no caso de uma concordata da empresa”, disse. “Tenho esperanças de que ele levará à conclusão de uma aliança com a Fiat, de modo que a Chrysler conseguirá evitar a falência.”
O comitê de credores da Chrysler, que inclui JPMorgan Chase, Goldman Sachs, Morgan Stanley e Citigroup, propôs, na semana passada, assumir US$ 3,75 bilhões da dívida e uma participação de 40% numa empresa reestruturada. Essa proposta é superior à oferta do Departamento do Tesouro, para assumirem uma dívida de US$1,5 bilhão e ficarem com 5% de participação na empresa.