Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos

CNTM

Elogio aos sindicatos

Em um estudo publicado em março e que passou batido, duas economistas do FMI revelam “a existência de uma ligação entre a queda da taxa de sindicalização e o aumento da parcela das rendas mais altas nos países avançados durante o período 1980-2010”.

Basta colocar no Google os nomes Florence Jaumotte e Carolina Osorio-Buitron e se pode ler, em inglês, o estudo na página do FMI, “Power from the people”.

Como elas explicam a relação? “Ao reduzir a influência dos assalariados sobre as decisões das empresas o enfraquecimento do sindicato permitiu que se aumentasse a parte das rendas constituídas pelas renumerações das cúpulas empresariais e dos acionistas”.

Segundo as economistas, metade do fosso das desigualdades decorre do declínio das organizações sindicais.

Pelos estudos de Thomas Piketty, amplamente divulgados, sabe-se que a concentração de renda tem aumentado no mundo capitalista desde o final do século passado. O estudo recente das duas economistas do FMI revela como o enfraquecimento dos sindicatos acelerou esse processo.

Desde que Ronald Reagan, em 1981, esmagou a greve dos controladores de voos norte-americanos e Margaret Thatcher, em 1985, a dos mineiros britânicos, foi aberta a estação de caça aos sindicatos.

Mesmo aqui no Brasil, cuja situação sindical é diferente da que existe em grande parte do mundo, com taxas de sindicalização resistentes, mobilizações e greves, ganhos reais de salários conquistados e unidade de ação, qualquer um percebe o açodamento contra os sindicatos, cujo papel positivo na luta contra as desigualdades é confirmado agora pelo próprio FMI.

O jornalista Serge Halimi, do Monde Diplomatique, que repercutiu o estudo, estranha que, ao invés de pregar o reforço das organizações sindicais, as duas autoras afirmem que “fica ainda por determinar se o crescimento das desigualdades devido ao enfraquecimento dos sindicatos é bom ou mau para a sociedade”.

As raposas perdem os pelos, mas não perdem os dentes.

João Guilherme, consultor sindical