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Efeitos da queda na Selic ao consumidor ainda são mínimos

Carolina Lopes

Do Diário OnLine

Mês passado o governo reduziu a Selic, a taxa básica de juros da economia do País, de 13,75% para 12,75% ao ano. Logo em seguida, diversos bancos anunciaram reduções em suas taxas de empréstimos. Mas até que ponto o consumidor será beneficiado por essas medidas? Especialistas respondem que os impactos serão pequenos.

“Os efeitos são mais psicológicos. Não irá fazer muita diferença no bolso do consumidor”, afirma o vice-presidente da Anefac (Associação Nacional de Executivos de Finanças e Contabilidade), Miguel José Ribeiro de Oliveira.

Apesar da redução de 1 ponto percentual na taxa, o Brasil ainda ocupa o primeiro lugar no ranking de países com os maiores juros reais (com o desconto da inflação) do mundo. Mas, antes de conhecer os efeitos dessa redução, é importante saber primeiro o que é essa taxa básica e como ela influencia o nosso dia-a-dia.

Selic é a sigla para Sistema Especial de Liquidação e de Custódia e é utilizada pelo Banco Central do Brasil para controlar a inflação no País. Se a inflação está muito elevada, o órgão diminui a taxa para que o crédito fique mais caro e, assim, a população acaba consumindo menos – a menor demanda tende a baixar os preços. Já se a economia anda meio desaquecida, como acontece em tempos de crise financeira, o BC baixa os juros para estimular o consumo.

O professor de economia da FEA/USP (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo) Heron do Carmo explica que a Selic interfere no cotidiano da população porque ela é o piso de outras taxas de juros praticadas pelo mercado.

“A Selic é uma taxa básica cobrada em negócios do Banco Central com outros bancos. Pode-se dizer que é o piso das taxas de juros e, quando se reduz a Selic, a tendência é que isso implique em redução das outras taxas e uma melhora do crédito”, esclarece Carmo.

Bancos e consumidor – Após a reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) do BC, na qual presidente e diretores do órgão se encontram para definir os rumos da Selic nos próximos 45 dias, diversas instituições financeiras anunciaram reduções nas taxas de juros em diversas modalidades de empréstimos.

No caso do cheque especial, apenas para citar um exemplo, a taxa diminuiu de 7,98% para 7,35% ao mês na Caixa Econômica Federal; de 8,64% para 8,56% ao mês no Bradesco; de 9,85% para 9,70% ao mês no grupo Santander (que inclui o Banco Real); de 8,95% para 8,87% ao mês no Itaú; e de 7,99% para 7,91% ao mês no Banco do Brasil.

Segundo o vice-presidente da Anefac, as taxas praticadas pelos bancos são tão elevadas que o efeito da queda na Selic é pequeno. “Atualmente, as taxas estão, em média, em 130% ao ano. Se no cheque especial o consumidor paga juros de 8% ao mês, com a redução na Selic ele passará a pagar 7,2%. Esse impacto quase não é sentido”, afirma Miguel de Oliveira.

“As taxas haviam subido tanto lá atrás que o repasse dos bancos não chegou sequer a compensar a alta anterior”, concorda o economista da USP.

Segundo Heron do Carmo, apesar da queda na Selic, os bancos aumentaram o ´spread´´, que é a diferença entre as taxas pagas pelos bancos para a captação de recursos e as que cobram para liberar empréstimos aos seus clientes.

“Isso aconteceu devido à crise. Com ela, há perspectiva de redução do emprego e aumento do risco de inadimplência. Assim, os banco adotam uma atitude de precaução, aumentando os juros mesmo com a Selic caindo. O que observamos é que o crédito na ponta, mesmo em momentos mais favoráveis para a economia, é pouco sensível à Selic, principalmente quando ela cai”, explica.

Segundo simulações da Anefac, o consumidor que utilizar R$ 1 mil de cheque especial por 20 dias, com uma taxa média de 7,91% ao mês, pagava R$ 52,73 de juros. Com a queda na Selic, a taxa cai para 7,83% e ele passará a pagar R$ 52,20 – uma economia de apenas R$ 0,53.

Caso o consumidor faça um crediário para comprar uma geladeira de R$ 1,5 mil, por exemplo, a Anefac calcula que o consumidor irá pagar pelo eletrodoméstico um valor total de R$ 2.172,96 ao final de 12 meses. Antes da redução na Selic, o valor total a ser desembolsado seria de R$ 2.182,44. Segundo a entidade, o consumidor passará a economizar apenas R$ 0,79 na prestação ou R$ 9,48 no valor final.

No caso da compra de um veículo de R$ 25 mil em 60 meses, a diferença que o proprietário irá pagar após o corte na Selic não passa de R$ 1 mil. Antes da diminuição na taxa básica de juros, o valor final pago pelo carro ficaria em R$ 54.781,20. Agora, segundo a Anefac, baixou para R$ 53.851,80 – uma redução de R$ 15,49 por prestação ou de R$ 929,40 no valor total.

Já no caso de financiamentos imobiliários, o vice-presidente da Anefac explica que a queda na Selic não tem tanto impacto para o consumidor. “Os juros dos financiamentos imobiliários não acompanham a evolução da Selic, até porque as taxas são, às vezes, mais baixas do que ela”, comenta Oliveira.

Outro lado – Apesar de não influenciar tão positivamente o bolso dos consumidores no curto prazo, os benefícios da redução de 1 ponto percentual na Selic são extremamente importantes para a economia do País.

“Os juros cobrados pela dívida pública brasileira estão atrelados à Selic. Se nossa dívida fosse, por exemplo, de R$ 500 bilhões, ela diminuiria em R$ 5 bilhões com essa redução de 1 ponto percentual na taxa básica de juros. Se o governo reduz a despesa com juros, sobra mais dinheiro para gastar com investimentos sociais. Esses US$ 5 bilhões a menos de juros, poderiam ser R$ 5 bilhões a mais de investimentos”, afirma o professor de economia da USP Heron do Carmo.

Além disso, o mercado financeiro prevê que a Selic irá manter a trajetória de queda ao longo deste ano, podendo encerrar 2009 em 10,75% – o menor patamar da história do País. O Copom também indicou, na ata que divulgou após sua última reunião, que a inflação está sob controle e que pretende realizar novos cortes.

“Quando a Selic cai e ainda existe a perspectiva de continuar caindo, existe um estímulo para a economia. A empresa que ia desempregar agora acaba esperando um pouco mais e as pessoas acham que a situação vai ficar melhor. Não que fique. Esses efeitos sobre a expectativa são mais importantes do que o efeito real sobre a taxa de juros para o consumidor”, considera Carmo.

Mas será que esse efeito sobre as expectativas irá realmente estimular o consumo, uma vez que o principal temor das pessoas nesse momento é perder o emprego? “Ao ler notícias de demissões nos jornais, o consumidor tende a ficar mais conservador. A curto prazo, ele não se endividará. Mas a longo prazo, na medida em que os juros continuarem caindo, ele ficará mais confiante”, avalia o vice-presidente da Anefac.