Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos

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Duelo de pareceres alimenta polêmica


O presidente da Eternit, Élio Martins, fala de assuntos jurídicos e médicos com propriedade. A faculdade de Direito ele cursou recentemente. A de Medicina, não. Mas o ofício o fez mergulhar no assunto e o executivo fala dos imbróglios jurídicos e das doenças respiratórias causadas pelo amianto como alguém que, de fato, entende do assunto.

A polêmica do amianto não cessa. Ao contrário. Há um verdadeiro duelo de estudos contra e a favor do uso. A Eternit, por exemplo, cita um estudo elaborado pela Fiesp que defende que o fim da produção repentina do amianto irá cortar 65% da oferta das telhas usadas pela população de baixa renda, com encarecimento de 5% a 9% do custo da casa popular. Por sua vez, a Abifibro – Associação Brasileira das Indústrias e Distribuidores de Produtos de Fibrocimento -baseia-se em recente estudo da Unicamp para comprovar efeitos nocivos à saúde e mostrar que o uso de fibras alternativas não encarece o produto.

Para João Carlos Duarte Paes, presidente da Abifibro, a diferença de preços é muito pequena e nunca chega a 30%. Além disso, defende Paes, o fato de a própria Eternit já usar as fibras alternativas – a empresa usa PVA importado da China e Japão em produtos de maior valor agregado, como chapas e divisórias – significa que a companhia tem tecnologia para fabricar a telha sem amianto.

O que está em jogo é um mercado de R$ 2 bilhões. “O amianto é tão perigoso, quanto bom”, diz o presidente da Abifibro. Ciente da polêmica, Martins fala clara e abertamente sobre o assunto. “Aprendi que, se você tem um problema, seja transparente”, afirma. A Eternit está no Novo Mercado da BM&FBovespa, nível máximo de governança corporativa.

Martins, então, gasta horas falando do assunto. Segundo o executivo, 80% dos doentes foram trabalhadores da fábrica de Osasco (SP), que começou a operar em 1940 e usava o amianto tipo anfibório, o mais tóxico, que não é mais produzido. “Não havia preocupação com o ambiente de trabalho”, diz. Segundo ele, hoje existe cuidado extremo nas fábricas e na mina. “Não tem ninguém que começou na empresa nos últimos 30 anos com problemas respiratórios”, diz. O presidente da Abifibro rebate, com base nos laudos médicos da Unicamp. “Está provado que é uma doença de longa maturidade, que pode aparecer, 30, 40 anos depois”, diz.

A Eternit fez acordo com cerca de cinco mil trabalhadores, que assinaram assistência médica vitalícia. A contrapartida: nenhum deles moverá processo contra a empresa. De acordo com o executivo, os problemas estão concentrados entre 1940 e 1980. Hoje, há 100 ações na Justiça movidas por ex-trabalhadores doentes contra a empresa.

De acordo com Martins, há cerca de 250 casos de asbestose (doença que diminui a capacidade respiratória) e 30 de câncer. Nessa conta, não entram os possíveis contaminados com placas nos pulmões. “Um total de.40 mil trabalhadores passaram pela empresa em 70 anos”, afirma.

A proibição do uso do amianto nos Estados está nas mãos da Justiça. “Há um litígio entre as legislações estaduais e a federal”, diz Martins. Segundo Paes, da Abifibro, o Supremo Tribunal Federal já julgou o caso e suspendeu o uso.

Martins entrou na companhia em 1975, pesando caminhões em Goiânia. “Se o time de gestores não tivesse tanto tempo de empresa, poderia faltar convicção para continuar dirigindo o negócio”, diz. A Eternit, que completou 71 anos este ano, tem capital aberto desde 1948. Originalmente, era de uma família suíça e hoje tem seu controle pulverizado, sem acionista controlador. (DD)