As recentes medidas adotadas pelo Conselho Deliberativo do Fundo de Amparo ao Trabalhador (Codefat), anunciadas pelo ministro do Trabalho, Carlos Lupi (PDT), oferecem considerável risco de o gestor público se aproveitar de uma notícia ruim para produzir excelentes novidades para determinados setores ou categorias previamente escolhidas pela autoridade.
É natural e justo que o governo, principalmente um que se diz popular e é controlado pelo Partido dos Trabalhadores (PT), se preocupe com as consequências nefastas da crise econômica internacional para o operariado. A decisão de estender o prazo de pagamento do seguro desemprego a quem perder suas vagas no mercado de trabalho formal, de três a cinco meses para quatro a sete meses, seria adequada se não discriminasse as categorias beneficiadas em detrimento de outras deixadas ao desamparo.
O ministro Lupi informou que os tais setores “mais atingidos pela crise”, a serem beneficiados pelo aumento de duas parcelas do seguro-desemprego, serão definidos com base em dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Segundo ele, a seleção, pelo visto aleatória, poderá incluir a siderurgia, extração mineral e exportação de frutas. Mas não deu uma justificativa boa e lógica para os critérios a serem adotados para a seleção destes segmentos mais prejudicados e, principalmente, por que um desempregado de um setor que a autoridade considere “menos atingido pela crise” teria de receber menos parcelas. Disporá o Ministério do Trabalho de um dispositivo para detectar que categorias terão menos contas a pagar ou mais necessidades essenciais a atender, em comparação com outras? Se o governo quer aumentar o número de parcelas do seguro-desemprego com dinheiro do FAT (que sempre foi usado sem parcimônia pela burocracia federal), deveria distribuir tal benefício de forma equitativa. Ninguém quer ficar desempregado muito tempo e é desumano discriminar qualquer operário que fique por quatro ou cinco meses nesta situação vexatória.
Do lado oposto das relações de trabalho, o mesmo Codefat também errou ao anunciar o financiamento, por meio dos instrumentos creditícios do Banco do Brasil, de capital de giro para micro, pequenas e médias vendedoras de automóveis usados que se comprometam a preservar empregos, uma condição obsessiva em medidas de Lula e Lupi. Pode ser que este tenha razão quando afirma ter sido o setor contemplado o mais atingido pelo susto causado pela queda dos mercados no comprador potencial de automóveis. Ocorre, porém, que o automotivo não foi o único setor atingido. E pouco adianta financiar os vendedores se também não forem contemplados os compradores, que deixaram de ir às compras por falta de crédito, desemprego ou insegurança quanto ao futuro profissional.
O uso discriminado do FAT pode não ter o efeito positivo esperado e, na certa, criará uma situação odiosa de privilégios administrados pelos gestores públicos, tornando-se, assim, outro efeito perverso da crise.