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JANAINA LAGE DO RIO
Estudo divulgado nesta terça-feira pelo economista Marcelo Neri, da FGV (Fundação Getúlio Vargas), afirma que ao menos no aspecto pobreza o Rio de Janeiro se tornou uma cidade menos dividida entre a favela e as demais áreas da cidade no período de 1996 a 2008.
O problema é que a menor distância entre os dois lados foi influenciada tanto pela melhora nas comunidades de baixa renda como pela deterioração no restante da capital.
Com base na linha de pobreza da FGV, definida em R$ 137 mensais, a taxa de pobreza das favelas caiu de 18,58% para 15,07% entre 1996 e 2008. Nas demais áreas da cidade, o patamar de pobreza avançou de 7,87% para 9,43% no mesmo período. Em geral, a capital do Estado registrou aumento da pobreza nos 12 anos retratados na pesquisa.
O resultado vai na contramão da tendência de desempenho do país. Entre 1996 e 2008, a taxa de pobreza do Brasil caiu de 28,82% para 16,02%.
“A desigualdade carioca não mudou nos últimos 12 anos e hoje é maior que a brasileira”, afirma o estudo. A comprovação é dada pelo índice de Gini, que mede a desigualdade de renda. Ele varia de zero a um, quanto mais próximo de um, maior o patamar de desigualdade. O índice carioca ficou praticamente estável no período de 1996 a 2008: passou de 0,5779 para 0,5764. No mesmo período, o indicador para o Brasil caiu de 0,602 para 0,549.
Quando se compara a desigualdade nas favelas e nos demais bairros da cidade, ela é maior fora das favelas.
De acordo com a pesquisa, a diferença de renda entre as favelas e o restante da cidade tem diminuído nos últimos anos. “As duas partes da cidade partida parecem ter se aproximado em termos de renda. Esta maior aproximação se deu pela queda do poder de compra do asfalto e não por uma melhora absoluta da renda nas favelas cariocas”, diz o estudo.
Em relação à educação, mesmo com um ganho de 1,1 ano de estudo na média dos moradores das favelas, eles ainda apresentam ao menos 3,5 anos de estudo a menos que o restante da cidade.
A renda do trabalho tem um peso maior entre os ganhos dos moradores de favelas (79,17%) do que os que vivem em outras áreas da cidade. Em 2008, os programas sociais corresponderam a 0,78% da renda nas favelas cariocas e 0,76% no restante da cidade. “Novos programas assistenciais como o Bolsa Família parecem não ter chegado na intensidade necessária às comunidades de baixa renda da cidade do Rio até 2008”, diz o estudo.
Neri destaca no estudo que ainda não é possível mensurar, com base nas estatísticas oficiais, o efeito das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) nas favelas da cidade.
O estudo descreve o nível e a evolução das condições de trabalho e de vida no Rio de Janeiro dando destaque inicial à análise das grandes favelas cariocas, como Complexo do Alemão, Jacarezinho e Rocinha, e dos reassentamentos urbanos da Cidade de Deus e Maré.