João Carlos Moreira
jcmoreira@diariosp.com.br
Diário de S. Paulo
O metalúrgico Miguel Torres tomou posse na presidência da Força Sindical há três semanas, em substituição ao deputado federal Paulo Pereira da Silva, o Paulinho (SDD-SP). Em entrevista ao DIÁRIO, ele disse que sua missão no novo cargo é manter a central empenhada nos temas que une as organizações sindicais, como a luta contra o fator previdenciário, a correção da tabela do Imposto de Renda e a garantia de direitos trabalhistas na regulamentação da terceirização. Ele também admite o distanciamento da Força em relação ao governo da presidente Dilma Rousseff (PT).
Divulgação/Força Sindical
Torres assumiu comando da Força Sindical após o deputado Paulinho se licenciar do cargo
ESQUECIMENTO
“O mais decepcionante é que o
movimento sindical apoiou
Dilma e ela se comprometeu.
Disse que acabaria com o
fator previdenciário, mas se
esqueceu disso após a posse”
DIÁRIO_ A saída do deputado Paulinho do PDT, deixando a base aliada de Dilma, e depois a sua posse na presidência da Força afastaram a central do governo. O que aconteceu?
MIGUEL TORRES_ Este é um momento de mudança. Nós das centrais sindicais nos unimos durante o governo Lula, passando por cima de divergências e nos concentrando em temas comuns. Fizemos as marchas pela valorização do salário mínimo e outras manifestações em conjunto. O governo Lula conversava com as centrais sindicais, mesmo que fosse para dizer “não” aos nossos pedidos. O que temos agora é um governo que não conversa com os trabalhadores, toma decisões a partir de suas conveniências. O mais decepcionante é que o movimento sindical apoiou Dilma e ela se comprometeu com alguns temas. Ela disse, por exemplo, que acabaria com o fator previdenciário, mas se esqueceu disso após tomar posse. Esse distanciamento do governo afastou a Força.
A central se opõe ao governo então?
A central não tem de ser contra ou a favor do governo. Ela tem de defender suas propostas. O governo de hoje não é um governo que ouve os trabalhadores, temos essa crítica.
Quais são os desafios para a Força?
Não há novos desafios, temos os desafios constantes. As centrais sindicais têm uma pauta que não avançou no governo Dilma. Está parada a questão do fator previdenciário, que dava para resolver neste ano. Temos também a redução da jornada, que já está lá (na Câmara) para ser votada, tem ainda a política de valorização do salário dos aposentados. Essa questão da terceirização, que tira direitos de trabalhadores, temos de avançar nessa discussão. Também estamos lutando pela correção da tabela do Imposto de Renda.
Na questão do favor previdenciário, que é uma briga antiga das centrais, não parece que tudo fica à mercê da vontade do governo?
O governo é quem tem mais peso, ele tem maioria na Câmara. Desde que foi criado o fator no governo Fernando Henrique, os componentes do atual governo foram contra naquela época. Na hora que se tornaram governo, se acomodaram, esqueceram o discurso de antes de 2002.
O que as centrais devem fazer?
Nossa ideia é ter apoio popular para pressionar os deputados. Estamos vendo com os partidos uma proposta de obstrução de pauta de votação no Congresso, enquanto não se consegue um acordo sobre o fator previdenciário. Isso é possível de ser feito.
Como a Força deve se posicionar nas eleições presidenciais de 2014?
Nossa central não tem cunho partidário, tem dirigentes de quase todos os partidos. Posso dizer que nossa central está muito descontente com o governo, mas isso não quer dizer que os dirigentes nossos vão ser totalmente contra o governo Dilma. Cada dirigente vai avaliar isso em relação ao segmento que representa.
E na disputa do governo do estado?
É a mesma posição. Nunca fechamos com um candidato, preservamos a liberdade de cada dirigente.