Escrito por Cibelle Bouças
Palmas (TO) é a capital mais jovem do país, com 18 anos de fundação. Dona de uma população de 179,7 mil habitantes, possui uma das taxas de desemprego mais elevadas, de 19,2% em 2006 apontada pelo Núcleo de Gestão Pública Inovadora de Palmas, para uma média nacional de 9,5% no mesmo período, segundo dados do IBGE. Estudo desenvolvido pelo professor de Economia da Universidade Federal do Tocantins Waldecy Rodrigues, que estima os riscos de desemprego por gênero e escolaridade, revela que mulheres, jovens com baixa escolaridade têm mais chances de ficarem desempregadas.
O índice desenvolvido pelo economista vai de zero a 1, sendo 1 o grau máximo de risco. Conforme o estudo, a mulher que nunca estudou tem risco de 0,7 de estar desempregada, enquanto o homem tem risco relativo de 0,58. O índice vai se reduzindo de acordo com o grau de escolaridade. Homens com até 8 anos de estudo têm risco de 0,37 e as mulheres, de 0,5; na categoria máxima (mais de 12 anos de estudo), o risco para o homem se reduz para 0,11 e o risco da mulher permanece maior, de 0,18.
Na distinção por faixa etária, homens com 20 aos 29 anos tem risco de 0,17, enquanto o das mulheres é de 0,24; e dos 30 aos 49, os índices baixam para 0,08 e 0,12, respectivamente. “O desemprego em Tocantins está muito ligado a fatores de discriminação. Mulheres e jovens solteiros e sem filhos têm mais chances de ficarem desempregados que os demais. Mas o caso da mulher é mais evidente, mesmo que ela atinja o grau máximo de escolaridade, está mais sujeita ao desemprego”, afirmou.
As desigualdades no mercado de trabalho encontradas em Palmas não diferem daquelas observadas no restante do país. Diferenças entre homens e mulheres, brancos e negros, jovens e idosos não são apenas uma maioria estatística observada nos estudos da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A discriminação no mercado de trabalho está presente e cristalizada em todos os Estados e municípios brasileiros, é o que apontam diferentes pesquisas apresentadas no VI Encontro Nacional da Associação Brasileira de Estudos Regionais e Urbanos (Aber), realizado em Aracaju na semana passada.
O economista e pesquisador pela Faculdade de Economia da Universidade Federal da Bahia (UFBA) Warley Rogério Fulgêncio Soares observou diferenças semelhantes no mercado de trabalho de Minas Gerais. Seu trabalho foi desenvolvido com base nos dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) do Ministério do Trabalho. De acordo com a pesquisa, a diferença salarial entre homens e mulheres manteve-se estável em 46% entre 2001 e 2005. Em relação ao grau de escolaridade, em 2001, a diferença entre trabalhadores com curso superior completo e analfabetos era de 189%, e recuou, em 2005, para 151%. A diferença sobre os empregados com segundo grau completo reduziu-se de 93% para 79% no mesmo intervalo. “Parte dessa redução é explicada pela valorização do salário mínimo, mas também houve um achatamento dos salários de trabalhadores com curso superior”, observou.
O pesquisador ponderou, no entanto, que a melhora no nível de escolaridade contribuiu para reduzir as diferenças salariais entre mesorregiões do Estado. Os trabalhadores do Vale do Jequitinhonha e Norte de Minas, por exemplo, recebiam 40,17% e 35,59% menos que um trabalhador da Região Metropolitana de Belo Horizonte em 2001, respectivamente. Em 2005, essas diferenças baixaram para 26,08% e 28,15%. “Esse movimento também pode ser observado nas demais áreas do Estado, em maior ou menor grau”, afirmou.
Outro trabalho do mesmo pesquisador apontou as diferenças salariais no Nordeste. A diferença por gênero também ficou evidente. Em 2001, os homens recebiam em média 38% a mais que as mulheres no Nordeste. Em relação ao grau de escolaridade, um trabalhador com ensino fundamental completo recebia 37% mais que um analfabeto e o empregado com nível superior recebia 311% a mais. Em relação aos Estados, os trabalhadores da Paraíba recebiam 29,5% menos que o trabalhador baiano; o cearense, 15% menos; os pernambucanos apresentavam a menor diferença sobre os empregados da Bahia, de 3%.
A pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em Economia da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) Isabela Araújo Neri, observou que as diferenças se mantiveram entre 1996 e 2006. Além das diferenças por gênero e faixa etária, ela destacou as diferenças regionais de faixa salarial, sempre levando em consideração o sexo, a faixa etária, o grau de escolaridade e a atividade exercida. De acordo com sua pesquisa, os piores salários são pagos aos trabalhadores das regiões Nordeste e Centro-Oeste. “O trabalhador que reside na região Nordeste tem remuneração 26,32% menor que na média do país; no Centro-Oeste, a remuneração é 10,26% inferior à média do país”, comparou a pesquisadora.
“Houve melhoria no rendimento médio, mas a heterogeneidade permanece em todos os Estados e municípios. Se for feito um recorte entre área urbana e rural, por cor ou raça, idade, gênero, escolaridade, essas diferenças salariais serão observadas em todas as esferas”, afirmou o diretor de estudos sociais do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Jorge Abraão de Castro. “O que ocorre concretamente e que tem reduzido o grau de diferenças salariais é a melhora do nível educacional.”
De acordo com Castro, o mercado de trabalho está elevando o nível de escolarização em âmbito nacional e isso melhorado o rendimento. “Ainda assim, permanece uma diferença significativa de gênero, com a mulher ganhando menos que o homem”, afirmou. Há ainda, diz Castro, um diferencial por raça ou cor, e os negros se encontram em situação pior que os brancos, mesmo aqueles que têm alto nível de especialização. “Quem está em pior situação é o trabalhador negro, com baixa escolaridade, jovem e que vive no meio rural. E se viver no Nordeste tende a receber um rendimento médio mais baixo que outras pessoas com as mesmas características”, explicou.