Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos

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Desastre da mineração atinge MG


César Felício, de Belo Horizonte

Minas Gerais começa a contabilizar o tamanho do desastre na economia local provocado pela crise de 2009

Minas Gerais começa a contabilizar o tamanho do desastre na economia local provocado pela crise de 2009. Embora tenham começado a se recuperar em agosto, os setores mineral e metalúrgico foram os maiores responsáveis pela queda. Dados compilados pela Fundação João Pinheiro mostram que a produção física de extração mineral caiu 25% no ano passado. A de produtos metálicos recuou 32%. No setor de máquinas e equipamentos, a queda foi de 29,9%. Na metalurgia básica, de 26,32%.

Retração em 2009 afeta economia mineira

César Felício, de Belo Horizonte

Mineração: Maior impacto é decorrente da queda na extração de ferro da Vale em MG, além de aço e ferro-gusa

Estado que tem na mineração e na exploração de seus derivados a sua origem, Minas Gerais começa a contabilizar no primeiro trimestre deste ano o tamanho do desastre na economia local provocado pela crise mundial de 2008. O setor mineral e metalúrgico, que puxou a queda, só começou a reagir a partir de agosto e os primeiros números sobre o desempenho de 2009 são altamente negativos.

Segundo apurou o IBGE, em dados compilados pela Fundação João Pinheiro, do governo estadual, a produção física de extração mineral caiu 25,1% no ano passado. A de produtos metálicos despencou 32,8%. No setor de máquinas e equipamentos, o recuo foi de 29,9%. A metalurgia básica teve decréscimo de 26,32% . Mesmo o setor de veículos e autopeças teve uma queda de 4,1%, embora a principal empresa do segmento, a Fiat Automóveis, tenha tido uma produção ligeiramente maior.

A maior das mineradoras, a Vale , freou bruscamente seus investimentos e sua produção de ferro em Minas Gerais, sobretudo no primeiro trimestre de 2009. Segundo informação divulgada pela empresa, o minério de ferro no sistema Sudeste, composto pelas minas de Itabira, Mariana e minas centrais, além de uma produção muito pequena em Urucum e Corumbá , no Mato Grosso do Sul, teve sua extração reduzida de 115 milhões para 89 milhões de toneladas. No sistema Sul, com mineração em Itabirito , Vargem Grande e Paraopeba, a produção mineral caiu de 80,4 milhões para 55,2 milhões de toneladas.

Percentualmente, a extração em Minas caiu de 64,9% para 60,4% em relação ao total extraído pela empresa. A desaceleração na produção mineral também se refletiu no investimento menor realizado pela Vale em Minas no ano passado. A empresa havia aplicado em 2008 US$ 5,2 bilhões no Estado, valor que caiu para US$ 3,98 bilhões em 2009, uma redução de 24%. Outra consequência direta da decisão de reduzir a produção no Estado foi a diminuição da carga transportada pela Ferrovia Centro Atlântica (FCA), que caiu de 11,2 milhões para 10,6 milhões de toneladas.

Nos municípios em que a Vale atua, apenas Itabira e Nova Lima registraram aumento na geração de empregos formais, segundo dados do Ministério do Trabalho. Houve saldo negativo na geração de emprego em municípios menores, como Mariana, Itabirito, Barão de Cocais e São Gonçalo do Rio Abaixo, onde está a mina Brucutu.

A retração do emprego ocorreu também nos municípios de atuação das demais mineradoras, como Congonhas, área da CSN, e Brumadinho, da Vallourec & Mannesmann. Em termos globais, o emprego na indústria extrativa mineral recuou 8% em Minas Gerais. “É um resultado que não destoa do quadro nacional, mas que em Minas ganha relevo pelo peso que a setor tem no Estado”, disse o pesquisador do IBGE Antonio Brás.

No setor siderúrgico, as grandes empresas, como Usiminas, Gerdau e ArcelorMittal, mostraram recuperação de resultados já no terceiro trimestre do ano passado, mas as guseiras independentes continuam retraídas. Segundo o Sindicato da Indústria do Ferro de Minas Gerais, dos 106 fornos das 60 guseiras que operam no Estado, 71 viraram o ano paralisados. “Nossa média histórica de produção é de 450 mil toneladas mensais. Chegamos a cair para 100 mil toneladas e agora estamos com 230 mil toneladas ao mês”, avaliou o presidente do Sindicato, Paulino Cícero, ex-ministro das Minas e Energia no governo Itamar Franco.

“Entregava até 35 mil toneladas por mês, em contratos de exportação para Taiwan. Agora, estou produzindo 7 mil toneladas”, comentou o ex-governador Newton Cardoso, dono da Companhia Siderúrgica Pitangui, uma das maiores do Estado. A tonelada do gusa, que chegou a ser cotada a US$ 900 em 2008, está em torno de US$ 380 atualmente. A recuperação da produção no final do ano, contudo, fez com que os polos guseiros de Minas fechassem o ano com saldo positivo de empregos. Foi o caso de Sete Lagoas, Divinópolis e Itaúna.

A demanda menor das guseiras também afetou o resultado da produção de carvão vegetal. Segundo dados da secretaria mineira de Agricultura, no ano passado houve uma queda de 24,5% no volume produzido, e de 54% no valor da produção.

Na indústria metalúrgica de bens acabados, mesmo incentivos fiscais do governo federal não produziram resultado positivo em 2009. Foi o caso do setor automotivo. A Fiat Automóveis elevou ligeiramente sua produção, passando de 722 mil para 736,6 mil unidades entre o ano retrasado e o passado, mas a produção física em Minas Gerais do setor como um todo caiu 4,1%. Segundo avaliação do Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças), em 2009 houve recuo de 1,4% do faturamento no mercado mineiro. Mas o prejuízo foi concentrado nos três primeiros meses do ano, quando o faturamento recuou 15%.