Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos

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Desalento evita alta no desemprego, afirma IBGE

 

 

Sem estímulo, pessoas deixam de procurar trabalho e desocupação fica quase estável

 

Número de postos de trabalho criados no quadrimestre não é suficiente para cobrir crescimento da população

 

DA SUCURSAL DO RIO 

 

O mercado de trabalho sucumbiu diante da crise e registrou o menor crescimento do número de empregos em meses de abril desde o início da nova Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE, em 2002. O número de pessoas ocupadas nas seis principais regiões metropolitanas do país subiu só 0,2% ante abril de 2008. Na comparação com março, cedeu 0,2%.

 

Segundo o IBGE, a ocupação cresceu 1,1% no primeiro quadrimestre de 2009 ante igual período de 2008. Trata-se também do mais baixo nível da série histórica e de ritmo inferior à expansão da população em idade ativa -1,4%. Ou seja, tal cenário revela que neste período de crise o mercado de trabalho não consegue nem sequer absorver as pessoas que atingem a idade para trabalhar.

 

O fraco desempenho na abertura de vagas só não se traduziu num aumento do desemprego porque muitas pessoas, desalentadas com os impactos da crise, saíram do mercado de trabalho, segundo especialistas. Com a procura por trabalho, a taxa de desemprego ficou praticamente estável em 8,9% em abril -em linha com os 9% de março e pouco acima dos 8,5% de abril de 2008.

 

“É um processo de desaquecimento muito visível provocado pela crise. A taxa de desemprego só não cresceu porque há uma menor pressão de oferta de trabalhadores. E a causa é possivelmente o desalento, quando menos pessoas estão procurando trabalho, desestimuladas pelo cenário econômico”, disse Lauro Ramos, do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).

 

Para Ramos, o fraco crescimento da ocupação é o sinal mais claro do enfraquecimento do mercado de trabalho nas metrópoles, afetado especialmente em razão dos efeitos da crise na indústria.

 

Já Fábio Romão, da LCA, pondera que a crise contribuiu para deteriorar o mercado de trabalho, mas a ocupação também caiu na margem por conta da elevada base de comparação -ao final de 2008, a expansão estava na casa dos 4%.

 

Romão avalia, entretanto, que a baixa expansão do emprego rebaterá nos próximos meses na taxa de desemprego, que subirá na média deste ano. Ele estima taxa de 8,9% em 2009, um ponto percentual acima dos 7,9% médios de 2008.

 

Coordenador da pesquisa do IBGE, Cimar Azeredo Pereira disse que um dado “negativo” da pesquisa é o fraco crescimento do número de pessoas ocupadas. O outro é o fato de a expansão estar abaixo do crescimento vegetativo da população. O técnico ressaltou, porém, que o mercado de trabalho vive uma fase de “estabilização”, a julgar pela taxa de desemprego. “O que é um bom sinal diante do tamanho da crise pela qual o mundo passa.”

 

Pereira ressaltou como pontos positivos do mercado de trabalho o crescimento do rendimento e da formalização, que ainda resistem à crise.

 

No primeiro quadrimestre, a renda cresceu 4,4%, acima dos 2,3% registrados no mesmo período de 2008. A evolução positiva, segundo o IBGE, ocorreu graças à inflação mais baixa e ao reajuste do salário mínimo.

 

Em abril, porém, o rendimento caiu 0,7% ante março, embora ainda tenha apresentado expansão em relação a abril de 2008 (3,2%).

 

Já o contingente de trabalhadores com carteira assinada aumentou 0,9% diante de março e 2% sobre abril de 2008.

 

Para Romão, a indústria “claramente liderou a piora no emprego”, que se manteve, por sua vez, “razoavelmente equilibrado” no setor de serviços.

 

(PEDRO SOARES)