Como já foi escrito pelo repórter Sergio Lamucci, do Valor, num artigo no dia 27 de junho, o Brasil se tornou nos últimos meses o país que não cresce economicamente, mas está em pleno emprego, ou muito próximo dele, com a taxa de desocupação nas regiões metropolitanas no seu nível mínimo histórico.
São várias as explicações para esse ´descasamento´ entre uma expansão pequena do Produto Interno Bruto (PIB) e o desemprego baixo. Uma delas é que, depois de enfrentarem grandes dificuldades para encontrar mão de obra qualificada no período de crescimento mais acelerado do país, as empresas estão agora atrasando o máximo possível qualquer decisão de demissão dos funcionários. Nos últimos anos, muitos grupos empresariais investiram pesadamente em treinamento e preferem agora passar um período sem cortes de pessoal mesmo que haja folga na sua capacidade de produção.
Os analistas também lembram que o setor de serviços, que emprega grande número de trabalhadores, está tendo um desempenho acima da média da economia em termos de crescimento. De fato, isso está acontecendo. Os dados detalhados sobre o PIB do terceiro trimestre apresentados pelo IBGE na sexta-feira mostram que no setor de serviços houve aumento de 0,7%, enquanto que a indústria registrou queda de 2,5%.
Há, porém, um outro fator preponderante que ajuda a compreender o desequilíbrio entre PIB e emprego relativamente pouco estudado até agora. A forte queda da taxa de fecundidade no Brasil tem afetado o ritmo de alta da população em idade ativa (PIA) e, com isso, diminuído a velocidade de expansão da oferta de trabalho.
A população de 18 a 24 anos (faixa etária que costuma oferecer boa parte dos ´entrantes´ no mercado de trabalho) está até mesmo encolhendo. Depois de atingir 23,9 milhões de pessoas em 2005, recuou para 22,7 milhões em 2009 e deve cair para 21,9 milhões neste ano, segundo estimativas do departamento econômico do Bradesco, feitas com base em projeções do IBGE por faixa etária.
Nesse cenário, a oferta de mão de obra tem crescido a um ritmo consideravelmente inferior ao da demanda. Como resultado, o Brasil registra há meses uma baixíssima taxa de desemprego. Em maio, a desocupação nas seis principais regiões metropolitanas estava na casa de 5,5%, na série livre de influências sazonais, segundo o levantamento da consultoria LCA (em junho, o IBGE não divulgou os dados relativos ao Rio e, em julho, os números do Rio e de Salvador, por causa da greve dos funcionários da autarquia).
O Brasil passa por um processo de mudança demográfica bastante significativo, confirmado pelo Censo de 2010. Relatório do Bradesco destaca que “a mudança da estrutura etária em curso nas últimas décadas se acentuou desde o Censo de 2000” -a participação da população com 65 anos ou mais foi bastante expressiva, assim como a fatia dos habitantes de menos de 15 anos. Em 1970, 42% das pessoas tinham menos de 15 anos, número que caiu para 24,1% em 2010. A fatia dos maiores de 65 anos, por sua vez, subiu de 3,2% para 7,4%.
Com isso, fica claro que o Brasil passa por um processo de rápido envelhecimento populacional, em que há uma tendência de forte declínio da taxa de fecundidade, como destaca em seus estudos o economista Jorge Arbache, da Universidade de Brasília (UnB) e assessor da presidência do BNDES. Um fenômeno que tem um impacto dos mais relevantes sobre o mercado de trabalho.
A taxa de fecundidade, por exemplo, caiu de quase 6 filhos por mulher em 1970 para 1,9 em 2010, uma taxa baixa para padrões internacionais e comparável à de países ricos com estrutura demográfica madura, como o Canadá, observa Jorge Arbache.
Nesse cenário, é essencial que sejam revistas as políticas públicas voltadas tanto para educação quanto para previdência e assistência social. Um país com menos jovens precisa se ajustar à nova realidade.