Até dentro no governo cresce cobrança por um plano amplo de proteção
Adriana Fernandes, BRASÍLIA
A onda de demissões que começou a se configurar na economia brasileira neste início de 2009 aumentou a pressão para que o Ministério da Fazenda adote um plano de ações emergenciais voltadas para atenuar os efeitos negativos do desemprego. Um plano que funcionaria como uma espécie de “ponte” para o trabalhador caminhar até uma situação de recuperação do emprego, como medidas de ampliação da rede de proteção social e dos mecanismos de seguro-desemprego.
Setores do governo avaliam que não basta a adoção de um pacote de medidas de estímulo à habitação e de desoneração tributária para estimular os investimentos e preservar os empregos, como o que está em estudo pela equipe econômica. Seria preciso um quadro mais amplo de medidas para combater os efeitos da crise financeira nessa fase mais crítica de desaceleração do ritmo de crescimento do País.
A possibilidade de escalada do número de desempregados no País está provocando insatisfação entre ministérios com ações voltadas às áreas do setor produtivo com a atitude do ministério da Fazenda e Banco Central (BC) na condução das discussões das medidas. Nos bastidores, setores dos Ministérios do Desenvolvimento, Cidades, Trabalho e Agricultura admitem que a área econômica está mais aberta às conversas com empresários do que às discussões com os colegas da Esplanada.
Uma coordenação maior entre os ministérios também está na pauta das discussões. Essa coordenação incluiria também o BC, que, na avaliação das mesmas fontes, precisa iniciar a redução da taxa básica de juros, a Selic, em dosagem maior. A reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), na próxima semana, será decisiva para definir os rumos da economia para 2010.
Não se trata de combater apenas as expectativas negativas, mas evitar que as demissões se generalizem para setores que ainda não foram afetados pela crise financeira e poderiam se antecipar a um cenário econômico pessimista que não está configurado. Ontem, o IBGE divulgou uma queda de 0,6% do emprego em novembro em relação a outubro de 2008, a maior retração desde outubro de 2003. Tradicionalmente, é um período de fechamento de postos, mas o que se observa é a tendência de aumento de casos de demissão.
Até mesmo o período de férias do Ministro da Fazenda, Guido Mantega, e a viagem ao exterior do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, nesta semana, são criticados. Existe o temor de que as medidas para a preservação do emprego possam chegar “tarde demais” e além do prazo prometido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No fim do ano passado, durante o programa “Café com o Presidente”, Lula garantiu à população que novas medidas anticrise sairiam até o dia 20. O retorno de Mantega das férias está previsto para o dia 19.