Segundo a sabedoria popular, a corda sempre arrebenta do lado mais fraco. Em meio à pandemia da Covid-19, isso acontece mais uma vez.
Cito os dois problemas graves.
O primeiro é o próprio atendimento à saúde, cuja precariedade afeta os mais pobres. Cerca de 40 milhões de brasileiros têm convênio médico, e se viram. Mas os outros 170 milhões precisam do SUS.
Nosso Sistema Único de Saúde faz o que pode. Os profissionais se desdobram e até põem sua vida em risco. Mas a procura é maior do que a capacidade de atender, até porque os governos (de Temer pra cá) cortaram verbas e congelaram investimentos na saúde.
Os pobres, na realidade, morrem mesmo é de pobreza. De pobreza material, pobreza por falta de acesso a serviços essenciais, pobreza da desinformação e da pobreza moral de nossos governantes, que não têm respeito pelo povo e pela vida.
O segundo problema grave é o emprego. A crise, somada à incerteza quanto ao futuro, faz o empregador cortar gastos. E uma das primeiras medidas é demitir. Agora, com a MP 936, de Bolsonaro, ficou ainda pior, pois a medida dá plenos poderes ao patrão e praticamente impede a presença sindical na negociação pra se alterar jornada, salário e o próprio contrato de trabalho.
Com isso, temos um cenário tenebroso, que é o aumento das contaminações e mortes pelo coronavírus, a perda de empregos e a queda na renda familiar. Claro que essa situação gera uma forte pressão pelo relaxamento do isolamento social e volta ao trabalho.
O sindicalismo está atento e procura fazer o possível. Os Sindicatos buscam influir nos acordos em suas bases e outras entidades, como as Centrais, pressionam por mais recursos à saúde. Foi o que ocorreu no 1º de Maio Unificado que, além de defender a democracia, os empregos e os salários, empunhou a bandeira da saúde. Ou seja, defesa da vida.
Se o decreto de Doria não for prorrogado, a volta ao trabalho será dia 11, segunda-feira. E nós estamos preparados pra isso? Eu digo que não. No ambiente do trabalho, acaba se dando um jeito quanto ao isolamento social. Mas dentro do ônibus, do metrô, do trem ou da lotação não se tem controle. Da mesma forma, haverá aglomerações em pontos de ônibus e terminais.
O sindicalismo não é contra a volta gradativa ao trabalho. Nossa preocupação é garantir que o isolamento social seja respeitado. O patrão cuida da empresa pra dentro. O Sindicato não tem poder de polícia. O ministério do Trabalho, que fiscalizava, foi extinto por Bolsonaro. O que fazer?
Minha proposta é que patrões, empregados, poder público e autoridades sanitárias estabeleçam entre si um protocolo por cidade ou região, pra que haja segurança na retomada ao trabalho, que o retorno cumpra rigorosamente o protocolo que for firmado. Enfim, que voltar ao trabalho não signifique entrar no corredor da morte do coronavírus.
José Pereira dos Santos
Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Guarulhos e Região
e secretário nacional de Formação da Força Sindical
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