23 mar 2009
Notícias
Na hora de investir, sugestões dadas nos bancos nem sempre são corretas. Para não perder dinheiro, é preciso analisar muito bem as opções
FABRÍCIO DE CASTRO, fabricio.castro@grupoestado.com.br
“Antes de investir, converse com seu gerente.” A recomendação, importante para os investidores de primeira viagem, pode até esclarecer algumas dúvidas, mas também pode trazer sérios prejuízos. Na semana passada, o Jornal da Tarde visitou agências dos principais bancos do País em busca de orientações sobre como aplicar R$ 10 mil, por um período de três anos, e obter uma rentabilidade superior a da caderneta de poupança. A conclusão? Muitos funcionários não sabem indicar as opções mais rentáveis nem explicar como funcionam as aplicações oferecidas.
Nos nove bancos visitados, em apenas três o funcionário mencionou o fato de que, atualmente, a caderneta de poupança chega a ser mais rentável que os fundos de renda fixa. Isso ocorre porque, com a queda da Selic (a taxa básica de juros da economia), o rendimento dos fundos tornou-se menor. Como não existe cobrança de taxa de administração e de Imposto de Renda (IR) na poupança, ela acaba ficando mais rentável.
Em um dos casos, o gerente do banco sugeriu à reportagem um fundo DI com taxa de administração de 2,5% ao ano. “Não vale a pena”, sentencia Liao Yu Chieh, professor de finanças do Ibmec São Paulo. “Um fundo assim teria uma rentabilidade líquida de 6,8% ao ano. Na poupança, o dinheiro renderia 7,4%.”
Nos cálculos, Chieh considerou uma média anual de 10,73% para o CDI nos próximos três anos – uma média de mercado registrada na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F) na última sexta-feira. Ao abater a taxa de administração de 2,5% e o IR de 15% sobre os rendimentos, os ganhos do fundo DI cairiam para 6,8%.
É por esse motivo, aliás, que o governo federal estuda a redução da remuneração da poupança. Da forma como os juros estão hoje, os fundos DI perdem feio.
Na hora de explicar o que era o CDI, o problema foi maior. Um dos funcionários disse que era “uma taxa que indica o valor da moeda” – e o repórter continuou sem entender nada. Outro atendente preferiu mudar de assunto.
A sugestão para que o dinheiro fosse aplicado em um plano de previdência privada também é discutível. “Não dá. Com a taxa de carregamento e de administração, não vale a pena”, afirma o economista Luiz Jurandir Simões de Araújo, da Universidade de São Paulo (USP). “Previdência privada é para prazos de, no mínimo, dez anos”, diz Chieh.
Se os bancos erram na hora de orientar, o que os investidores devem fazer? A dica é sempre procurar falar com um gerente especializado em investimentos. Gerentes comuns podem até ser bons para orientar operações usuais, como as de crédito e as de cheque especial, mas podem ter dificuldades para tratar de investimentos.
Também é importante buscar informações por conta própria e sempre exigir explicações objetivas. “Hoje, quando vai comprar um carro, você usa a internet para se informar sobre os modelos e os preços antes de ir à concessionária. Na compra de títulos para investimento, funciona da mesma forma”, diz Chieh.
SAIBA MAIS
CDBs
Os Certificados de Depósitos Bancários são títulos negociados pelos principais bancos. Sua rentabilidade está atrelada à variação dos Certificados de Depósitos Interbancários (CDIs). Um CDB sempre pagará uma porcentagem específica do CDI – que hoje varia de 85% a 100% nos principais bancos
CDIs
Os Certificados de Depósitos Interbancários (CDIs) são títulos emitidos pelos bancos e comercializados entre eles diariamente. A transação dos CDIs entre os bancos (compra e venda) gera uma taxa média de juros. É essa taxa do CDI que serve de referência para a remuneração dos CDBs
FUNDOS DI
Assim como os CDBs, esse fundo possui a rentabilidade atrelada ao CDI. A diferença é que os fundos cobram do investidor taxas de administração (que podem chegar a 5% ao ano). Se forem muito altas, pode ser mais interessante deixar o dinheiro na caderneta de poupança. Os fundos também pagam IR e IOF
CADERNETA DE POUPANÇA
Uma das aplicações mais tradicionais no Brasil, é oferecida pela maioria dos bancos. Não tem taxa de administração nem sofre a incidência do IR. Rende a taxa referencial (TR) mais 0,5%
PREVIDÊNCIA PRIVADA
Os planos de previdência privada são uma alternativa de longo prazo para o investidor. Devem ser utilizados por quem pretende economizar para a aposentadoria. É indicada para quem tem vários anos pela frente. Em prazos menores, as taxas eliminam os ganhos
IMPOSTOS E TAXAS
São fundamentais para os ganhos. Na poupança, não há taxa de administração nem de impostos. Os CDBs não têm taxa de administração, mas o Imposto de Renda incide sobre os ganhos. Em fundos, há taxa de administração e IR. Nos dois casos, quanto mais tempo o dinheiro ficar aplicado, menor será o IR. O Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) incide apenas no primeiro mês
O JT visitou agências de alguns dos maiores bancos do País. Sem se identificar, o repórter pediu para conversar com um gerente sobre investimentos e solicitou orientação sobre como aplicar R$ 10 mil por um prazo de três anos
BRADESCO
Sugestão: aplicar em CDBs do banco. A opção seriam fundos DI
Avaliação: foi a pior orientação recebida. A funcionária não informou que o CDB paga, na verdade, só uma porcentagem do CDI, nem soube explicar o que é o CDI. Além disso, está mal-informada sobre a taxação de fundos
Diálogo:
Repórter – Os fundos de renda fixa têm taxa de administração?
Funcionário – Não. Só os fundos de ações têm taxas de corretagem. Os de renda fixa não têm…
HSBC
Sugestão: aplicar em CDBs do banco que, na situação apresentada, pagariam 95% do CDI
Avaliação: foi o melhor atendimento encontrado pela reportagem. O funcionário explicou, antes mesmo de ser questionado, como funciona o CDB, quais os valores e os impostos envolvidos
Diálogo:
Repórter – O CDB dá mais que a poupança?
Funcionário – Sim. Apesar do Imposto de Renda, a rentabilidade é maior no longo prazo
BANCO DO BRASIL
Sugestão: fundo DI com taxa de administração de 2,5% ao ano. CDBs foram citados como opção
Avaliação: o funcionário lembrou que, no site do banco (www.bancodobrasil.com.br), há um teste para identificar o perfil dos investidores. O maior erro foi não apontar que, neste momento, os fundos DI podem render menos que a poupança, por conta da taxa de administração e do Imposto de Renda
Diálogo:
Repórter – O CDB funciona como um fundo?
Funcionário – Não. Eu vou te dar um folheto. Aqui você vai entender melhor o que é um CDB e como funcionam outras aplicações
CAIXA ECONÔMICA
Sugestão: aplicar em um plano de previdência, apesar de o prazo previsto ser de apenas três anos
Avaliação: o funcionário foi paciente, mas indicou um plano de previdência. Para prazos tão curtos, os planos podem render menos que a caderneta de poupança. Atualmente, não vale a pena. O ponto positivo foi ter descartado os CDBs do banco
Diálogo:
Repórter – Compensa aplicar em CDBs?
Funcionário – A Caixa paga muito pouco. Não vale a pena…
SANTANDER
Sugestão: aplicar em CDBs do banco. A opção indicada foram os fundos de renda fixa
Avaliação: o funcionário estava mais preocupado em trazer a conta do repórter (e a da esposa do repórter) para o banco do que esclarecer as dúvidas sobre investimentos. Ele não soube explicar de forma clara o funcionamento dos CDBs e teve várias dúvidas sobre a dinâmica dos fundos
Diálogo:
Repórter – Os fundos cobram taxa de administração?
Funcionário – Acho que não. Mas deixa eu perguntar…,
REAL
Sugestão: aplicar em CDBs do banco. Os fundos foram descartados porque, com a taxa de administração, a rentabilidade do investimento cairia
Avaliação: o funcionário explicou corretamente o funcionamento dos CDBs e como a rentabilidade dos certificados está ligada aos CDIs
Diálogo:
Repórter – Para mim valerá a pena aplicar em fundos?
Funcionário – Com R$ 10 mil, você vai conseguir um fundo com taxa de administração de 4% ao ano. Não vai valer a pena
UNIBANCO
Sugestão: CDBs do banco, que pagariam 100% do CDI
Avaliação: o funcionário explicou de forma correta o funcionamento de CDBs
Diálogo:
Repórter – Fundos de renda fixa não valem a pena?
Funcionário – O problema do fundo é que a pessoa paga taxa de administração. É alta, mata a rentabilidade…
NOSSA CAIXA
Sugestão: fundos DI do banco
Avaliação: a funcionária estava mal-informada sobre investimentos. Ela mostrou um folheto com a rentabilidade obtida no passado pelos fundos e nem mencionou que isso não garante bons resultados no futuro. Além disso, os fundos DI vêm perdendo da caderneta de poupança, por conta das taxas de administração
Diálogo:
Repórter – O fundo DI rende mais que a poupança?
Funcionária – Sim, rende. Olha aqui…” (mostrando um folheto)
ITAÚ
Sugestão: nenhuma. O funcionário preferiu não se comprometer e decidiu agendar uma conversa do repórter com um especialista
Avaliação: no primeiro momento, o funcionário indicou os CDBs do Itaú. Como o repórter pediu mais detalhes, ele preferiu passar o caso para um especialista. Uma nova visita seria agendada, o que é positivo: é melhor conversar com quem sabe do que receber informações erradas
Diálogo:
Repórter – Mas o que é um CDB? É igual à poupança?
Funcionário – Olha, nós temos um gerente de investimentos que poderá lhe explicar melhor como os CDBs funcionam. Podemos marcar um encontro…
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