Avaliação de que haverá impacto deflacionário no mercado interno deixou de ser polêmica e é consenso entre investidores, economistas e governo
Raquel Landim – O Estado de S.Paulo
Com o agravamento da crise externa, o ciclo de alta de juros no Brasil deve chegar ao fim na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). A avaliação de que a crise vai provocar um impacto “deflacionário” no mercado interno deixou de ser polêmica. Hoje é consenso entre investidores, economistas e já é compartilhada por autoridades do governo.
Ainda é considerado “precipitado”, no entanto, prever queda da taxa de juros em breve, mas esse cenário não está descartado. Se a crise externa se agravar – com uma eventual quebradeira dos bancos europeus provocando o congelamento do crédito -, o Banco Central (BC) pode ser obrigado a afrouxar a política monetária rapidamente.
No boletim Focus divulgado ontem pelo BC, a média dos analistas passou a apostar que a taxa básica de juros, a Selic, será mantida em 12,5% até o fim do ano, com uma retomada do aperto monetário no início de 2012. A expectativa de bancos e consultorias para o Índice de Preços ao Consumidor (IPCA) em 2011 recuou de 6,31% para 6,28%. Para 2012, caiu de 5,3% para 5,27%.
O mercado futuro de juros domésticos registrou forte queda das taxas. Na BM&F Bovespa, o contrato de juros DI com vencimento em janeiro de 2012 fechou a 12,26% ontem, abaixo dos 12,34% da sexta-feira e dos 12,46% do fim de julho. O DI com vencimento em janeiro de 2013 caiu para 11,97%, comparado com 12,24% da sexta-feira e 12,7% da semana anterior.
Nos últimos dias, autoridades do governo se manifestaram a favor do fim do aperto monetário. O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, disse que não é “sensato” subir os juros diante do cenário internacional adverso. Em entrevista ao Estado, o ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, chegou a pedir queda de juros no segundo semestre.
Para os analistas, o agravamento da crise global só reforçou uma percepção da equipe econômica da presidente Dilma de que o pior da ameaça inflacionária ficou para atrás e de que não há justificativa para manter juros altos, que atraem capital especulativo e prejudicam a indústria. Na ata da última reunião, o Copom deixou de mencionar que o ajuste seria “prolongado”.
Impacto deflacionário. De acordo com Braúlio Borges, economista-chefe da LCA Consultores, a turbulência internacional reduz a perspectiva de crescimento dos Estados Unidos e da União Europeia, o que derruba os preços das commodities e alivia a inflação no Brasil. “O cenário externo passou de ambíguo para deflacionário”, disse.
José Francisco Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator, explica que a conjuntura internacional pode reduzir a inflação brasileira por três vias: queda dos preços das commodities, queda dos preços dos produtos importados pelo País e mudança nas expectativas dos diferentes agentes do mercado. “Estão reunidos todos os elementos para o Copom não elevar a Selic na próxima reunião.
Os analistas, no entanto, afirmam que ainda é “cedo” e “precipitado” esperar queda da taxa de juros, porque os fatores internos que pressionam a inflação permanecem intactos. Não há perspectiva de forte impacto para o mercado de trabalho local, o que mantém os preços dos serviços em alta. Para a economista-chefe da Rosemberg Consultores, Thaís Zara, uma queda da taxa de juros só deve ocorrer se for confirmado um “duplo mergulho” da economia americana.