Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos

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Crise bate mais forte no país e PIB cai 3,6%

Brasil tem um dos piores desempenhos no último trimestre de 08, fazendo ruir discurso oficial de que país seria pouco afetado

Levantamento com 37 economias aponta que retração brasileira no final do ano passado só não foi pior do que em 5 países

GUSTAVO PATU

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

ÁLVARO FAGUNDES

DA REDAÇÃO

A divulgação da forte retração da economia brasileira no último trimestre de 2008, de 3,6% na comparação com o trimestre anterior, fez ruir o discurso oficial segundo o qual o Brasil seria um dos países menos afetados pela crise econômica global.

Se considerado apenas o período de outubro a dezembro, a reviravolta sofrida pelo país foi uma das mais agudas do planeta. Levantamento feito pela Folha com 37 países aponta que apenas 5 -Coreia do Sul, Taiwan, Tailândia, Indonésia e Estônia- afundaram tão ou mais rapidamente que o Brasil na onda recessiva detonada a partir de setembro.

“Eu estou convencido de que o Brasil sofrerá menos do que qualquer outro país a crise econômica surgida nos Estados Unidos”, dizia o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 10 de outubro. Em dezembro, o ministro Guido Mantega (Fazenda) ainda dizia esperar um crescimento “em torno de 3% a 3,5%” no último trimestre, na comparação com o mesmo período de 2007 -a taxa, porém, não passou de 1,3%, em uma economia que até então crescia a um ritmo de 6,8%.

Esse ritmo vigoroso da economia brasileira pré-crise ajuda a explicar por que o PIB aqui teve retração mais forte que nas outras grandes economias. Enquanto a expansão ganhava ritmo no país, com alta do PIB em 12 trimestres consecutivos, os EUA, por exemplo, já viviam recessão desde dezembro de 2007. A parada aqui, por causa do ritmo mais intenso, acabou sendo mais forte também.

E o fato de o Brasil ter sofrido uma retração maior do que nos outros países no último trimestre do ano não significa que a crise aqui seja maior. América do Norte, Europa e Ásia registram já recessão em vários países importantes, com previsões mais pessimistas do que as feitas para o Brasil.

O PIB de parte da economia mundial, especialmente o dos países mais ricos, começou a se contrair já no segundo trimestre de 2008, o que reduziu o impacto da queda nos últimos três meses, mas o tombo brasileiro é quase sem precedentes.

O Japão, por exemplo, que foi o desenvolvido mais afetado no período, registrou um recuo de 3,3%, o pior resultado em 34 anos da segunda maior economia mundial.

Mesmo na América Latina, onde o Brasil costuma ser visto com mais otimismo que seus vizinhos, nenhum dos países que já divulgaram os dados do PIB do quarto trimestre teve resultado pior. A Argentina divulgou uma contração de 0,3%, o que permitiu um crescimento econômico de 7% no ano.

O México, apontado por analistas como o país em pior situação, por causa da queda das exportações para os EUA e das remessas dos migrantes naquele país, os principais motores da sua economia, sofreu um retração de 2,7%. É verdade, porém, que a economia mexicana já vinha em trajetória de estagnação, com expansão de apenas 1,3% no ano.

Na Venezuela de Hugo Chávez, que propagandeia o crescimento em meio à crise com veemência superior à brasileira, o banco central divulgou em caráter preliminar uma espantosa expansão de 7,5% no fim do ano passado.

Apesar disso, os 4,8% acumulados no ano inteiro ficaram abaixo do resultado brasileiro, de 5,1% de expansão ao longo de 2008.

A comparação com Rússia, Índia e China, que com o Brasil formam o acrônimo Bric (reunindo os quatro gigantes emergentes), não pode ser feita porque eles não fazem a relação de trimestre ante trimestre anterior.

Já pelas estimativas do FMI, o desempenho do Brasil neste ano não será melhor do que o dos emergentes em geral: espera-se, para o país, um crescimento de 1,8%, ante 3,3% para o conjunto das economias em desenvolvimento.