Valor – Sergio Lamucci
O bom desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre provocou uma onda de elevações das estimativas para o crescimento de 2008. Se antes a maior parte dos analistas projetava uma expansão em torno de 4,8%, agora predominam as projeções na casa de 5,3%, muito próximas dos 5,4% do ano passado. A expectativa é de que o impacto do ciclo de alta de juros iniciado em abril bata com mais força na atividade econômica apenas no quarto trimestre.
O aprofundamento da crise externa tampouco deve causar grandes problemas neste ano – o temor maior é quanto aos efeitos em 2009, especialmente se houver um tombo adicional dos preços de commodities. A aposta dominante, porém, é de que o Brasil sofrerá pouco com o cenário internacional mais adverso, por ser uma economia fechada e ter uma situação externa confortável.
O ex-diretor do Banco Central (BC) Alexandre Schwartsman, economista-chefe do Santander, revisou a sua previsão de expansão do PIB de 4,7% para 5,3%. “Se o PIB não crescer mais nada no segundo semestre em relação ao nível de junho, a alta já será de 4,7%.”
Segundo Schwartsman, para registrar uma expansão de 5,3% em 2008 basta que a economia avance no terceiro e quarto trimestres a uma média de 0,8% em relação ao trimestre imediatamente anterior, na série com ajuste sazonal. Como entre abril e junho o PIB cresceu 1,6% nessa base de comparação, fica claro que a tarefa não será das mais complicadas. Ele destaca a alta da demanda doméstica, dizendo que o aumento do consumo das famílias, de 6,7% em relação ao mesmo período de 2007, o surpreendeu um pouco.
O economista-chefe do Unibanco, Marcelo Salomon, também elevou a sua previsão de expansão do PIB para 5,3% – antes, ele apostava em 4,8%. Para Salomon, o grande destaque foi o investimento, que vem crescendo na casa de 15% a 16% há alguns trimestres. “É um ritmo excepcionalmente forte, que deve continuar a elevar o crescimento potencial [aquele que não provoca aceleração da inflação] nos próximos trimestres, à medida que os investimentos maturarem.”
Salomon diz que o aumento das inversões deverá trazer boas notícias em termos de inflação em 2009, o que poderá levá-lo a mudar a trajetória projetada para a taxa Selic. Ele acreditava que os juros iriam atingir 15,25% ao ano em janeiro, aí permanecendo até o fim do ano. “Agora, acho possível que haja um corte no segundo semestre”, afirma ele, que deve revisar para cima a sua projeção de crescimento para 2009, de 3%.
Já Marcela Prada, da Tendências Consultoria, estava na ponta oposta à de Salomon, com uma projeção de 4,1% para 2009. Ela diz que, se tiver de reduzir a previsão, será algo modesto, dado o bom resultado do segundo trimestre. O ponto é que a expansão superior a 5% esperada para 2008 deverá deixar uma “herança estatística” (o “carry over”) maior para 2009.
O economista-chefe da corretora Concórdia, Elson Teles, deve elevar a sua projeção para o PIB em 2008 de 4,8% para 5,2% ou 5,3%, mas prefere manter a estimativa para 2009 em 3,5%. Segundo ele, o grau de incerteza em relação ao que vai ocorrer no ano que vem é elevado. Além do impacto dos juros mais altos sobre a atividade econômica, há uma percepção crescente de que a desaceleração global será mais forte do que se esperava, com o recrudescimento da crise externa. “O Brasil está de fato mais resistente a choques externos, mas não está imune”, diz Teles, notando que o tamanho do impacto vai depender da intensidade e da duração da crise.
Schwartsman manteve a sua previsão de crescimento de 3,5% para 2009, dizendo que não a revisou para cima por causa do cenário externo mais adverso. Segundo ele, o pior cenário para o Brasil seria um tombo forte dos preços de commodities, que afetaria as exportações e levaria a uma alta expressiva do dólar. Isso pressionaria a inflação, fazendo o BC aumentar ainda mais os juros. Esse não é, porém, o cenário com que Schwartsman trabalha. A expectativa é de acomodação das commodities em níveis próximos aos atuais.
O economista do Santander destaca dois fatores que limitam o impacto da crise externa sobre o crescimento do país. O primeiro é que a economia é fechada: as exportações e importações totalizam cerca de 25% do PIB, muito menos que os cerca de 70% do Chile. Como as exportações equivalem a algo como 13% do PIB, um recuo da demanda externa não causa grandes estragos sobre a economia, diz ele. O próprio BC estima que a redução de 1% do crescimento global tira 0,1 ponto percentual de expansão do PIB brasileiro depois de dois ou três trimestres. Outro ponto é que hoje a alta do dólar reduz a relação entre a dívida pública e o PIB, pois o governo é credor líquido em moeda estrangeira, devido especialmente às reservas de US$ 200 bilhões. Há alguns anos, o dólar piorava os indicadores fiscais, o que levantava dúvidas quanto à solvência das contas públicas.