SÃO PAULO – Embora o corte de 1 ponto percentual no juro básico da economia não tenha sido decisão unânime entre os componentes do Comitê de Política Monetária (Copom), houve consenso de que há ” espaço existente para distensão residual ” da política monetária, revela a ata da reunião de junho do comitê. No texto, o Banco Central (BC) abre espaço para pequenos ajustes futuros, mas sinaliza que o tempo de reduções expressivas da Selic acabou ou, pelo menos, deve ser suspenso por enquanto.
No texto, o Copom reforça que a Selic tem diminuído desde janeiro e é preciso levar em conta o efeito acumulado dessas reduções sobre a economia antes de tomar novas decisões. ” A expressiva flexibilização da política monetária implementada desde janeiro terá efeitos cumulativos, que serão evidenciados após certa defasagem temporal, sobre a economia ” , resume a ata.
Essa flexibilização feita desde janeiro foi o argumento de dois dos oito integrantes do Copom para justificar o voto por um corte de 0,75 ponto na Selic na reunião de junho. Os dois diretores do BC avaliaram que o efeito do corte do juro básico neste ano – dos 13,75% iniciais para os 9,25% ao ano atuais – ainda se fará sentir sobre os indicadores econômicos ao longo do tempo. ” Sendo assim, alguns diretores consideraram que seria apropriado, nestas circunstâncias, reduzir imediatamente o ritmo de flexibilização monetária, implementando de forma mais suave a parte remanescente do processo de ajuste. ”
A maioria, ou seis diretores, porém, enxergaram espaço para um corte mais agressivo, por concluir que as projeções de inflação futura já incorporam o corte de juros feito desde janeiro. Segundo a ata da reunião, as expectativas de inflação para 2009 e 2010 ” continuam em patamar consistente com a trajetória das metas ” (cujo centro é de 4,5% pelo IPCA) e, com isso, os seis diretores optaram, ” neste momento, por manter o ritmo de ajuste ” .
Assim como no comunicado que anunciou o corte da Selic para 9,25%, o Copom frisou que novos cortes no juro deverão ser implementados ” de maneira mais parcimoniosa ” . A ” parte remanescente ” do processo de ajuste, segundo o Comitê, vai depender do comportamento das perspectivas para a inflação e do balanço dos riscos para a estabilidade de preços e o crescimento econômico. O Copom também admite que a economia brasileira entra agora em uma nova fase, com juros básicos de um dígito, que trará novos desafios na condução da política econômica. ” A preservação de perspectivas inflacionárias benignas irá requerer que o comportamento do sistema financeiro e da economia sob um novo patamar de taxas de juros seja cuidadosamente monitorado ao longo do tempo ” , diz o documento.
Como na ata da reunião de abril, o Copom menciona que a crise econômica global levou a um desaquecimento na demanda interna e externa e a uma consequente redução do uso da capacidade de produção. Tais fatores contribuem para conter as pressões inflacionárias. A ata diz, que, nesse ambiente, a política monetária ” pôde ” – com o tempo verbal no passado – ” ser flexibilizada de maneira expressiva desde janeiro sem colocar em risco a convergência da inflação para a trajetória de metas ” . O comitê assegura que os ” próximos passos da estratégia de política monetária ” serão definidos após o acompanhamento das expectativas de inflação até a sua próxima reunião, em 21 e 22 de julho.
(Paula Cleto | Valor Online)