Acordo de redução de jornada e salário é suspenso antes do prazo
Márcia De Chiara
Cerca de 20% dos acordos de redução de jornada e salário fechados no início do ano entre empresas e sindicatos para evitar demissões foram suspensos antes do fim do prazo de vigência previsto, apontam dados dos sindicatos dos metalúrgicos de São Paulo e do ABC paulista. A área de atuação dos dois sindicatos concentra o maior número de montadoras e fabricantes de autopeças do País, setor que foi beneficiado pela isenção do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para estimular o consumo.
Dos 27 acordos fechados entre o Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e empresas desde janeiro, seis foram revogados antes do prazo estipulado. No caso do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, dos 44 acordos fechados, nove foram suspensos antecipadamente, informa a entidade.
A Valeo Sistemas Automotivos, por exemplo, fabricante de faróis e lanternas para a indústria automobilística, suspendeu em abril o acordo que deveria expirar só em maio. “Sentimos uma recuperação do mercado, que está voltando à condição normal”, diz o diretor de Recursos Humanos da Valeo Iluminação, Francisco Cuesta. Ele lembra que a empresa foi a primeira a fechar um acerto nesses termos na capital paulista.
Pelo acordo fechado em janeiro, os 800 trabalhadores da empresa teriam a jornada e o salário reduzidos em 15% até maio. Sem o acordo, a empresa teria demitido 200 funcionários. Mas, já em abril, a companhia voltou a trabalhar em ritmo normal.
Segundo Cuesta, o corte no IPI para os carros foi o fator fundamental para reanimar as vendas. “Queremos acreditar que a redução de IPI vá até o final do ano.”
Já o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, Miguel Torres, não acredita que o benefício fiscal seja prorrogado. “O mercado está se movimentando e a fase do pânico foi superada”, diz o sindicalista.
Na opinião de Torres, muitas empresas do setor metalúrgico se assustaram com a queda nas vendas no fim de 2008 e fizeram acordos preventivos em janeiro. Agora a situação está voltando ao ritmo normal no setor automobilístico. O problema hoje, diz ele, está no setor de bens de capital, que tem 40% de ociosidade nas fábricas e registra queda de 50% nas vendas. “A questão agora é acertar esse setor.”
Sérgio Nobre, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, acrescenta mais dois setores problemáticos: o de caminhões e de ônibus, que são produtos ligados à exportação. Assim como Torres, Nobre não acredita na prorrogação do prazo para o benefício do IPI. “O IPI cumpriu um papel importante na recuperação do mercado interno.”
Para ele, a retirada do benefício para os carros, que expira em junho, deveria ser gradual para não provocar uma brusca elevação nos preços e o travamento no mercado de automóveis.