Valor Econômico
Por João Villaverde
De Brasília
Parte dos trabalhadores da indústria paulistana podem cruzar os braços por um dia logo após o Carnaval, na última semana de fevereiro, em protesto contra a forte entrada de produtos manufaturados importados. Os industriais liderados pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) não devem se incomodar – pelo contrário, a greve geral deve contar com a boa vontade dos empresários. O comércio varejista pode acompanhar. O arranjo dessa manifestação será fechado hoje, em São Paulo, em duas reuniões entre empresários e sindicalistas.
Na primeira reunião, de manhã, o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, discute os planos da greve geral na capital paulista com os presidentes de cinco centrais sindicais, capitaneadas pela Força Sindical, e pelo maior sindicato da capital, o Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo. Em seguida, os sindicalistas, desta vez liderados pelo Sindicato dos Comerciários de São Paulo, filiado à União Geral dos Trabalhadores (UGT), serão recebidos pelo empresário Abram Szajman, presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (Fecomercio).
Os encontros vão envolver empresários e os líderes das centrais Força Sindical, UGT, CTB, NCST e CGTB. Os sindicalistas representam na capital 420 mil metalúrgicos, 480 mil comerciários, 35 mil prestadores de serviços em software e processamento de dados, 80 mil motoristas de ônibus, além dos trabalhadores nas indústrias têxtil e de confecções, entre outros. Os industriais estão “inclinados” a apoiar a greve geral dos sindicalistas, segundo uma fonte ligada à Fiesp. O apoio, se confirmado, pode caracterizar um locaute. “Os importados estão reduzindo nosso ímpeto de contratações e mesmo reduzindo produção e, portanto, também resultando em demissões”, diz o industrial.
O protesto será concentrado na avenida Paulista, onde os sindicalistas esperam concentrar os trabalhadores com cartazes anti-importações. “O salário mínimo sobe forte e impulsiona os salários no mercado de trabalho como um todo, mas esse gás no consumo tem sido crescentemente convertido no consumo de importados”, afirma Miguel Torres, o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e Mogi das Cruzes.
Em novembro, o IBGE registrou queda de 0,1% sobre o mês anterior no emprego industrial. O pior resultado foi apurado em São Paulo, que registrou forte queda de 3,7% entre outubro e novembro – 15 dos 18 setores pesquisados pelo IBGE registraram corte de pessoal. De janeiro a novembro, a indústria aumentou a produção em apenas 0,4%, de acordo com o IBGE.
A Central Única dos Trabalhadores (CUT) é a única das seis centrais do país que não participará das reuniões hoje. As portas não estão fechadas à maior central do país, mas seu posicionamento contrário ao imposto sindical fez com que ela não fosse procurada.