Roberta Scrivano
O Globo
Embalado pelo discurso de 1º de Maio do presidente da Força Sindical, o deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, que defendeu a volta do gatilho salarial, o Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e de Mogi das Cruzes aprovou ontem, em reunião extraordinária, a reabertura das campanhas salariais com o intuito de “repor a inflação aos trabalhadores”. A proposta ainda será submetida à votação dos metalúrgicos em assembleia geral marcada para o próximo dia 25. Até lá, o sindicato fará assembleias na porta das indústrias para explicar a proposta.
Segundo o presidente do sindicato, Miguel Torres, a decisão de levar a proposta aos trabalhadores foi tomada porque o reajuste de 8% conquistado no ano passado “já foi corroído pela inflação”. Em seus cálculos, ele considera o acumulado do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2012, de 6,6%, mais 3,36% de janeiro a março deste ano.
– Isso quer dizer que já perdemos os 8% que tivemos de reajuste no ano passado e mais um pouco. O governo tem o poder de frear a inflação. Mas, se não o faz, queremos que, sempre que o índice passe de 3%, o governo peça a reposição em nossos salários – explicou Torres.
Pesquisa do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) detectou que os aumentos reais das categorias com data-base no primeiro trimestre deste ano foi de 1,4%, contra 2% do mesmo período de 2012.
Torres argumentou ainda que a inflação real é “muito maior que a oficial”. Tomando como base dados do Dieese, ele cita como exemplo o aumento de 55,88% no preço da cebola no primeiro trimestre, o do feijão carioca (26,47%) e o da farinha de mandioca (alta de 151,39%).
– Os trabalhadores são os que mais sofrem com a inflação, que é mais alta nos produtos básicos. A presidente (Dilma Rousseff) tem de chamar os trabalhadores para conversar. Neste governo, a única coisa que existe é uma relação bilateral dela com empresários – criticou.
O sindicato também já começa a organizar paralisações nas fábricas para o dia 14, data em que as centrais sindicais se reúnem com representantes do governo para debater uma pauta com diversas reivindicações, como o direito de negociação dos servidores públicos, regras para a terceirização e regulamentação do trabalho doméstico.
A ideia de reajuste automático (ou gatilho) abraçada pelos metalúrgicos de São Paulo ainda não teve a adesão dos metalúrgicos de São Bernardo do Campo, nem dos bancários e tampouco da Central Única dos Trabalhadores (CUT). O argumento é que a indexação dos salários será prejudicial à economia e realimentará a própria inflação.
– Essa não é uma reivindicação sindical, mas eleitoreira e oportunista – disse Vagner Freitas, presidente da CUT.
A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) não quis se pronunciar sobre as ameaças de greve nem sobre a indexação de salários e informou que “o assunto é novo e ainda está sendo avaliado”.