Montadora revisou projeção de faturamento de US$ 11 bi para US$ 9,5 bi para o ano
Na 1ª quinzena, vendas do setor caíram 17,5% em relação ao mesmo período de outubro e 24,4% ante novembro do ano passado
PAULO DE ARAUJO – COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O impacto da crise financeira internacional na economia brasileira deve fazer a General Motors deixar de faturar US$ 1,5 bilhão neste ano. A montadora revisou sua projeção de faturamento de US$ 11 bilhões para US$ 9,5 bilhões, após o esfriamento do mercado automotivo no país.
“O mercado sofreu uma queda muito significativa em outubro, de forma que nos surpreendeu totalmente. Nas últimas semanas, vimos que o crédito secou. Era muito difícil para o consumidor financiar as vendas”, afirmou ontem o presidente da GM para o Brasil e Mercosul, Jaime Ardila.
De acordo com dados obtidos pela Folha, foram vendidos pela indústria em novembro, até o dia 16, 89.744 veículos -um decréscimo de 17,5% em relação ao mesmo período de outubro e de 24,4% na comparação com novembro de 2007.
A perspectiva agora é que a desaceleração no mercado automotivo dure ao menos até o segundo trimestre de 2009, quando a situação do crédito estiver normalizada.
Para ajustar sua produção à demanda, a General Motors já anunciou três férias coletivas em suas unidades em pouco mais de um mês. Ardila não descarta novos períodos de interrupção ou mesmo demissões caso haja piora no cenário interno. “Precisamos ver como o mercado se comporta”, disse.
Segundo ele, porém, as medidas tomadas pelo governo para garantir mais liquidez no mercado automotivo, como a injeção de R$ 4 bilhões do Banco do Brasil nas financeiras das montadoras, já começaram a surtir efeito.
“As condições de financiamento já estão voltando ao normal. Os contratos de 60 meses haviam desaparecido em outubro, mas ressurgiram agora. Os juros para o setor, que chegaram a 1,9%, caíram para 1,6%, 1,7%. E a entrada, que estava em 40%, conseguimos diminuir para 20%”.
Blindagem
Ontem, a GM do Brasil convocou entrevista coletiva para esclarecer a posição da subsidiária diante das dificuldades financeiras por que passa a matriz. No terceiro trimestre, a GM registrou perdas de US$ 4,2 bilhões. Após o anúncio, chegou a ser noticiado que a montadora já não descartava pedir concordata.
Ardila, porém, nega que a montadora trabalhe com essa hipótese. “Houve uma interpretação equivocada. Nosso presidente [Rick Wagoner] já disse que não acha a concordata uma boa alternativa. Não estamos considerando isso”.
Ardila afirma ainda que a GM do Brasil está “blindada” dos problemas da matriz e que os investimentos previstos no país estão mantidos.
Segundo ele, a subsidiária brasileira continuará a ajudar a matriz por meio de remessa de lucros, embora os volumes não devam ser alterados em detrimento dos investimentos.
“Não faria sentido cortar investimentos justamente nos mercados que mais crescem.”