Para o economista Juarez Rizzieri, mudanças no hábito de consumo pesarão mais no bolso do consumidor
MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO
A classe média, que recebeu pouca pressão nos preços dos produtos consumidos nos últimos anos, deverá ser uma das mais afetadas a partir de agora, com a chegada da crise.
De um lado virão as perdas de emprego e de renda; de outro, os novos produtos inseridos no dia-a-dia dos consumidores dessa classe são os que devem registrar as maiores altas.
No rastro da perda de poder de consumo da classe média, perdem também os governos, que terão menor receita tributária. O governo federal perderá principalmente com as quedas na arrecadação do Imposto de Renda, do IPI e das contribuições previdenciária e ao FGTS. No caso dos governos estaduais e municipais, a perda virá com menores receitas do ICMS e do ISS.
A perda da classe média será acentuada devido à mudança de hábitos de consumo nos últimos anos, conforme constatou a OEB (Ordem dos Economistas do Brasil) na atualização da estrutura de ponderação de preços e serviços do Índice de Custo de Vida da Classe Média da cidade de São Paulo.
Atualmente, de cada R$ 100 gastos pelas famílias de classe média, R$ 32,43 são referentes a custos com habitação. Na década de 90, eram R$ 28,13. Já os gastos com alimentação, que atualmente somam R$ 17,81 em cada R$ 100, eram R$ 26,20 na década passada.
Juarez Rizzieri, membro do conselho da OEB, diz que exatamente essas mudanças de consumo é que vão provocar, agora, maior peso no bolso dos consumidores. Alguns dos produtos que mais pesavam no passado, como alimentos, hoje têm menor importância na grade de custos. Já os que estão com maiores altas, como saúde, transporte e habitação, são os que passaram a ter importância maior no custo diário.
A situação da classe média é exatamente inversa à da de baixa renda. Em meados de 2007, os alimentos tiveram forte reação de preços, e os consumidores de baixa renda passaram a gastar grande parte da renda com esses produtos, segundo Rizzieri. O grupo alimentação é o de maior peso para esses consumidores, que chegam a despender R$ 37,60 de cada R$ 100 gastos apenas com esse item, conforme dados do Dieese.
Nesse período, a classe média foi beneficiada e perdeu menos renda com esses produtos, embora a reposição do poder aquisitivo da classe baixa tenha sido maior devido aos aumentos reais do mínimo e de políticas sociais adotadas pelo governo, segundo Rizzieri.
Olhando para a frente, o economista diz que o ganho da classe média nos últimos anos deve desaparecer, e os custos seguramente vão pesar mais do que para a baixa renda.
Além de perder renda, os consumidores da classe média devem pagar mais por diversos produtos, entre eles combustíveis. No caso dos combustíveis, mesmo com a queda nos preços do petróleo, Rizzieri acha que a Petrobras deverá reajustar os preços. “É a única saída para a empresa conseguir recursos para investimento.”
O novo índice do custo de vida da Ordem dos Economistas passa a considerar famílias com renda entre 5 e 15 salários mínimos (R$ 2.075 a R$ 6.225).
Conforme dados divulgados ontem pela OEB, o custo de vida da classe média paulistana subiu 0,26% em dezembro, acumulando 6,22% no ano passado.