Fernando Taquari | De São Paulo
Na tentativa de pressionar o governo federal a abrir as negociações, as centrais sindicais cumpriram a promessa e realizaram ontem a primeira manifestação em favor de um reajuste maior para o salário mínimo. O ato ocorreu paralelamente em 20 Estados da Federação. Na capital paulista, o discurso inflamado de alguns líderes revelou que as entidades não estão satisfeitas com o tratamento dispensado até o momento pela presidente Dilma Rousseff. Os sindicalistas já solicitaram uma audiência com a presidente, mas ainda não tiveram resposta.
Com um discurso unificado, representantes da CUT, Força Sindical, CGBT, CTB, Nova Central e UGT, conseguiram levar cerca de 500 pessoas à Avenida Paulista, segundo estimativa da Polícia Militar. Na pauta de reivindicações, também está um aumento de 10% para os aposentados que ganham acima do mínimo e a correção da tabela do Imposto de Renda, de acordo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) de 2010, que foi de 6,47%. O presidente da Força Sindical, deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), o Paulinho, evocou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para reclamar do tratamento dado às centrais sindicais por Dilma.
“Estamos incomodados com esse início de governo. Antes de assumir o cargo de presidente, Lula se reuniu conosco duas vezes. Na época, disse que, se não pudesse atender às demandas, continuaria a conversar. Se Dilma ficar ouvindo seus burocratas, vai ter muito trabalho conosco”, disse Paulinho. Apesar da tentativa de intimidação, as centrais sindicais sinalizaram que já estão preparadas para o caso de o governo federal bater o pé e fixar o mínimo em R$ 545, conforme medida provisória editada na semana passada. Nesse caso, segundo o deputado pedetista, a batalha será travada no Congresso Nacional, que é mais suscetível às pressões.
Na mesma linha de Paulinho, o presidente da CUT, Artur Henrique, afirmou que Dilma está cercada de “economistas burocratas que querem implantar a agenda dos derrotados nas urnas”. Uma prova disso, argumentou ele, seria o fato da equipe econômica ter pregado a necessidade de fazer um ajuste fiscal. “O mínimo é um poderoso instrumento para a presidente cumprir a promessa de erradicar a pobreza até 2014”, disse Henrique, que lembrou do apoio oferecido pelas centrais à Dilma na campanha presidencial. “Sem aumento real, vamos para rua com autonomia”, declarou.
O modelo atual de cálculo de reajuste do salário mínimo, que vale até 2023, garante a correção anual pela inflação e tem também como base o percentual de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do ano anterior ao envio da proposta orçamentária ao Congresso, que nesse caso seria o de 2009. Os sindicalistas, no entanto, reivindicam uma correção diferenciada para 2011, pois, em 2009, por causa dos efeitos da crise financeira mundial, o crescimento do PIB foi praticamente nulo. Por isso pedem um mínimo de R$ 580.
Ontem, as centrais também entraram com ações na Justiça Federal em cada um dos 20 Estados onde houve manifestações para conquistar a correção da tabela do Imposto de Renda. “Cuidado, Dilma. O FHC [ex-presidente Fernando Henrique Cardoso] começou assim. Não corrigiu a tabela. Foi o primeiro erro dele. Ninguém está botando a faca no pescoço, mas espero que esta seja a última manifestação”, enfatizou Paulinho, em um sinal de que a pressão deve aumentar. No Dia do Aposentado, 24 de janeiro, deve ocorrer mais um ato.