Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos

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Centrais levam a Lula pacote de reivindicações contra crise


Priscila Yazbek

SÃO PAULO – Centrais sindicais divulgam hoje um pacote de reivindicações na tentativa de reduzir os efeitos da crise econômica mundial. As sugestões serão entregues ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O documento compreende 16 medidas, e dentre as principais estão a redução da jornada de trabalho a 40 horas semanais; o aumento das parcelas do seguro-desemprego para um ano; redução da taxa de juros; redução do superávit primário; e campanha social de empresas que receberam crédito do governo, para que, mesmo com o corte de gastos, funcionários permaneçam na empresa.

As centrais também sugerem aumento de investimentos em áreas que gerem emprego, intervenção dos fundos de garantia para que o país não entre em recessão e a manutenção da correção da tabela do imposto de renda, pelo menos para corrigir as perdas com a inflação.

Paulo Pereira Silva, o Paulinho, líder da Força Sindical, explica que hoje pela manhã o documento deve ser discutido, e também será resolvida a data de entrega ao presidente. Segundo Paulinho, as medidas devem ser apresentadas o quanto antes para que a crise seja freada. “Em momentos de crise quem faz mais pressão tem mais poder para enfrentá-la. Nós vamos pressionar, fazer passeatas para que a crise não nos afete. Em crise, quem chora mais é ouvido, e nossas medidas devem ser ouvidas para que a crise seja enfrentada”, disse o líder da Força Sindical.

Na opinião de João Carlos Gonçalves, o Juruna, secretário-geral da Força Sindical, a passagem do presidente por São Paulo no mesmo dia em que as centrais sindicais – Força, CUT, CGTB, CTB, UGT e NCST – estarão reunidas pode ser um bom momento para uma eventual reunião com Lula. “Agora que as centrais estão reunidas é hora de o governo escutar nossas propostas”, disse Juruna. Para ele, o governo teria escutado bancos e empresários e agora é o momento de Lula ouvir os representantes dos trabalhadores. Juruna disse que líderes sindicais acreditam que os efeitos da crise internacional devem ser minimizados se o governo investir dinheiro em áreas que gerem emprego, como em infra-estrutura.

Reajuste das pensões

Na semana passada, o Projeto de Lei nº 58/2003, do senador petista Paulo Paim (RS), que reajusta os valores das aposentadorias e pensões pagas pela Previdência Social aos segurados foi aprovado pelo Senado. O projeto está em tramitação e deve passar ainda pela Câmara dos Deputados.

A proposta é fortemente apoiada pelas centrais: “Esta é uma reivindicação do movimento sindical. Normalmente se tem um teto de dez salários mínimos, mas às vezes se perde o referencial, por isso é importante o projeto. Está é uma bandeira pela qual estamos lutando”, disse o secretário-geral da Força Sindical. “Vamos defender o projeto e vamos agora fazer pressão para que seja aprovado, assim como as outras leis de Paim. Quem chorar mais, ganha”, disse Paulinho.

Este projeto pode representar o primeiro desentendimento entre as centrais sindicais e Lula desde o primeiro mandato do presidente. A proposta, que está em discussão desde 2003, deverá ser submetida à sanção presidencial para que seja aprovada. Questionados sobre a posição do presidente sobre o projeto, Paulinho mudou de assunto e Juruna disse desconhecer a opinião de Lula.

Lula quer ouvir trabalhadores

Na sexta-feira, Lula participou, em Washington (EUA), de reunião com dirigentes da Central Sindical Internacional (CSI). Ao final do evento, dirigentes elaboraram propostas a serem entregues aos líderes mundiais que participaram da reunião do G-20. A propostas priorizam a produção e defendem mecanismos de controle dos mercados financeiros. Os líderes sindicais enfatizaram a questão da geração de emprego e renda, proteção social dos trabalhadores e diálogo social.

Na ocasião, o presidente garantiu ao secretário de Política Sindical da CUT Nacional, Vagner Freitas, que se reunirá com as centrais sindicais para debater as medidas apontadas pelas centrais para combater a crise. “Chegando ao Brasil, vou conversar com as centrais sindicais, porque, neste momento, acima das pautas corporativas, precisamos ouvir todos os atores sociais e encontrar formas para enfrentar a crise”, afirmou Lula.

O presidente ressaltou que a questão do emprego é primordial e que a liderança de países emergentes necessita, antes de alternativas sociais, das velhas fórmulas fiscais. Lula disse ainda que o FMI e o Banco Mundial, devem passar a cumprir outro papel, pois estão interferindo em demasia nos países pobres.