Paulo de Tarso Lyra | Valor
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou a exigência das centrais sindicais de aumento real do salário mínimo neste ano, quando a regra prevê a reposição da inflação do ano anterior e aumento real com base na variação do Produto Interno Bruto de dois anos antes.
“Não é uma boa política mudar o acordo a cada ano. Se é verdade que PIB vai dar zero neste ano, no ano que vem vai dar oito, tem compensação”, afirmou o ex-presidente, pouco antes de participar de uma das discussões do Fórum Social Mundial, ontem em Dacar, capital do Senegal, segundo a Agência Brasil.
“O que não pode é nossos companheiros sindicalistas quererem mudar a regra do jogo a cada momento. Ou você aprova a regra na Câmara e todo mundo fica tranquilo, ou você tem oportunismo”, afirmou Lula, lembrando que a “proposta não é do governo, é um acordo”.
As centrais querem que o governo conceda aumento real para o mínimo, ignorando a regra que prevê aumentos com base no crescimento econômico que, em 2009, não houve, por causa da crise financeira mundial iniciada em 2008. Lula declarou que pode até conversar com os antigos companheiros, mas não irá interferir na questão. “Não é mais minha tarefa conversar. O governo e o Congresso devem fazer isso”.
“É natural que as centrais queiram um aumento maior que a inflação”, disse João Felício, secretário de Relações Internacionais da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e ex-presidente da entidade, que também está em Dacar. “A nossa pretensão é [elevar o salário mínimo para] R$ 580. Caso não consigamos convencer o governo, vamos levar essa luta para o Congresso Nacional e para a sociedade.”
“Não entendo a reação do presidente. Estamos defendendo o legado do governo dele e o compromisso que ele assumiu, ao lado de Dilma, no segundo turno, com as centrais”, disse Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, da Força Sindical. Segundo ele, não há possibilidade de acordo sem um valor superior a R$ 545: “Às vezes, é melhor perder lutando.”
Ontem, o governo manteve a decisão que contrariou as centrais sindicais e decidiu encaminhar ao Congresso uma medida provisória reajustando o salário mínimo para R$ 545 e mantendo a regra de reajuste levando-se em conta a inflação do ano anterior e o Produto Interno Bruto de dois anos antes. A decisão foi sacramentada durante a reunião de coordenação política.
De acordo com o ministro das Relações Institucionais, Luiz Sérgio, a política de valorização do salário mínimo vai valer até o fim do mandato da presidente Dilma. Ele lembrou que durante o mandato de Luiz Inácio Lula da Silva o governo encaminhou ao Congresso um projeto propondo uma política de valorização do mínimo até 2023. Mas o projeto nunca foi votado. “Como nas negociações com as centrais previa-se uma revisão do acordo em 2011, estamos propondo a manutenção da política até 2014”, disse o ministro.
Luiz Sérgio garantiu que durante a reunião não foram discutidos os cortes ao Orçamento. O pacote fiscal deve ser anunciado pela equipe econômica ainda esta semana.