AGNALDO BRITO – DA REPORTAGEM LOCAL
A crise internacional começa a se alastrar para a economia real e há indicações de que atingiu a eufórica indústria de transformação no Brasil. A sondagem mensal do Ibre/FGV (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas), divulgada ontem em São Paulo, revelou pelo menos três fatores negativos: o nível de estoque na indústria aumentou; a disposição para contratações caiu; e a taxa de ocupação do parque produtivo baixou. Só nas no setor de bens intermediários, a ocupação industrial caiu de 87,8% para 86%, efeito que reflete o investimento e a queda de demanda, diz a FGV.
Há um quarto fator negativo em setembro que ainda carece de confirmação nos próximos meses, embora seja preocupante. Além da queda da demanda externa, a novidade captada na sondagem de setembro foi a queda da demanda interna. Com isso, pela primeira vez desde agosto de 2006, o indicado de nível demanda global -que incorpora vendas internas e externas- foi pior na comparação com o mesmo mês do ano anterior. Em setembro, o indicador foi de 121 pontos, contra 124 pontos em igual período de 2007.
“Para confirmar se essa é uma tendência ainda é preciso verificar se nos próximos meses a demanda global continuará a cair. O que chama a atenção é o aspecto sazonal. É incomum uma queda da demanda industrial exatamente em setembro. A indústria nesse período indica o oposto, indica aceleração”, disse Aloisio Campelo, coordenador de sondagens do Ibre.
O resultado foi a piora no índice geral de confiança industrial no mês. O ICI (Índice de Confiança da Indústria) -indicador que agrega dados da situação atual das empresas e as expectativas no horizonte de três e de seis meses- fechou o mês de setembro a 120,3 pontos, queda de 1,9% em relação ao mesmo período de 2007. Essa piora na confiança foi a mais expressiva em termos percentuais desde janeiro de 2006, mês quando o índice havia baixado 10% na comparação com igual intervalo do ano anterior.
Campelo preferiu cautela ao dizer que o resultado da sondagem de setembro indica o fim de um ciclo de expansão, mas é categórico ao afirmar que o cenário mudou. “Estamos rumando para uma desaceleração. É isso que a sondagem está indicando”, afirmou.
A piora do cenário conforme visão da indústria reflete, por enquanto, a elevação dos juros no mercado interno e a queda das exportações, já como efeito de desaquecimento da economia mundial. A pesquisa ainda não captou os efeitos da crise financeira. “Houve influência, mas ainda foi pequena. Na próxima sondagem será possível observar qual o efeito da crise financeira”, diz Campelo.