Home Notícias CNTM Miguel Torres CartaCapital entrevista Miguel Torres, presidente da CNTM
27 set 2017
Miguel Torres
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Entrevista
Os metalúrgicos se unem contra a reforma trabalhista
Pela primeira vez, diz Miguel Torres, da Força Sindical, os sindicatos superam as divergências e traçam uma estratégia comum contra as mudanças na CLT
Na sexta-feira 29, os sindicatos metalúrgicos darão um passo adiante animador após tantos recuos recentes. Pela primeira vez, os grupos deixarão de lado as históricas divergências ideológicas e as preferências partidárias para anunciar uma aliança inédita: o apoio mútuo às negociações salariais e da convenção coletiva e a adoção de um calendário de manifestações contra a reforma trabalhista.
“A conjuntura exige uma nova postura”, avalia Miguel Torres, presidente da CNTM, uma das confederações nacionais de sindicatos da categoria, e vice da Força Sindical. A plenária nacional, no CMTC Clube, em São Paulo (mais informações aqui), reunirá representantes das sete principais centrais do País. Superar as diferenças e unir forças, acredita Torres, é a única maneira de impedir a ampla adoção pelas empresas da reforma trabalhista, que passa a valer em novembro.
CartaCapital: O que levou os metalúrgicos a finalmente unificar sua pauta de reivindicações?
Miguel Torres: É uma consequência da conjuntura. Os metalúrgicos sempre tiveram divergências ideológicas, que se expressam na divisão da base por várias correntes sindicais. Todas as centrais estão representadas entre os 2 milhões de trabalhadores do setor. Mas o momento exige dos dirigentes sindicais uma nova postura. Durante a tramitação da reforma trabalhista no Congresso, conseguimos superar essas divergências e organizar uma agenda única de mobilização. Essa união foi importante para que pudéssemos apoiar de maneira efetiva as duas greves gerais. Apesar de o movimento sindical não ter conseguido barrar a reforma, foi capaz de mostrar unidade. A experiência nos estimulou a prosseguir no diálogo, até para enfrentar a nova etapa e tentar barrar a adoção das mudanças pelas empresas.
CC: O que os metalúrgicos esperam conseguir de agora em diante?
MT: Neste segundo semestre acontecem inúmeras campanhas salariais. Elas não discutem apenas reajustes. É o momento de debater também as convenções coletivas, de renegociar as cláusulas sociais dos contratos. Será a oportunidade de incluir nas campanhas salariais benefícios retirados dos trabalhadores na reforma aprovada pelo Congresso.
CC: A maioria dos sindicalistas sempre defendeu o negociado sobre o legislado, um dos pontos aprovados na reforma trabalhista. Por que mudaram de opinião?
MT: O movimento sindical não se recusa a negociar. Faz parte da nossa vida. O problema é que a reforma trabalhista gerou um desequilíbrio a favor das empresas. Não existe uma garantia básica para os trabalhadores. Toda negociação, do nosso ponto-de-vista, precisa ser conduzida para ampliar os direitos, não diminui-los. Em lugares nos quais a base é menos organizada, os empregados se tornarão reféns do poder econômico. No momento, o negociado sobre o legislado tende a prejudicar a maior parte dos trabalhadores.
CC: A reforma entra em vigor em novembro. Como será possível enfrentar a sua implementação?
MT: Tentaremos, como disse antes, garantir a manutenção de direitos nas convenções coletivas. Em consequência, planejamos um calendário de mobilização da categoria. No caso de quem já assinou a convenção coletiva, a estratégia será atuar empresa por empresa. A ideia de criar essa unidade entre as centrais sindicais é também nos reaproximar da base, torna-la mais solidária com os sindicatos. Há outras questões em jogo além das negociações salariais.
Queria lembrar o episódio recente no Rio Grande do Norte que envolveu a Riachuelo, do empresário Flávio Rocha. Com o apoio da militância do chamado Movimento Brasil Livre, a Riachuelo passou a perseguir uma procuradora do Ministério Público do Trabalho, que, no seu papel de fiscal, descobriu que a companhia tinha contratos com fornecedores que mantinha a mão-de-obra em condições aviltantes. O relator da reforma trabalhista foi o deputado Rogério Marinho, que saiu com unhas e dentes em defesa do Rocha. A reforma, mostram essas conexões, foi pensada única e exclusivamente para atender aos interesses do empresariado.
CC: Por que tem sido mais difícil mobilizar a população contra a reforma trabalhista do que em relação à proposta de mudança na Previdência?
MT: A estratégia do governo e dos empresários foi muito eficiente. Eles propuseram duas reformas ao mesmo tempo. Para mudar a Previdência é preciso um número maior de votos favoráveis de parlamentares. Enquanto a sociedade debatia a situação das aposentadorias, apressou-se no Congresso a destruição da CLT, que necessitava de um quórum menor para ser aprovada. Além disso, o trabalhador ainda não sentiu os efeitos da reforma.
CC: O que representa essa união dos metalúrgicos para o futuro do movimento sindical?
MT: O efeito até agora é bem positivo. Outras categorias se inspiraram na iniciativa e começam a discutir uma atuação conjunta. No caso dos metalúrgicos, a união não significa um atropelo das centrais sindicais. Ao contrário. Quem tem a ganhar é o trabalhador. Eles terão mais informação e mais segurança na hora de lutar por seus direitos.
MT: Vamos resistir à aplicação da reforma trabalhista em novembro, enquanto nos organizamos para tentar reverter legalmente as mudanças aprovadas pelo Congresso. Há vários abaixo-assinados em circulação em busca de apoiadores suficientes para a apresentação de uma proposta de emenda popular que revogue a reforma. O objetivo é reunir mais de 8 milhões de assinaturas. Qual candidato à presidência da República no próximo ano poderá ignorar um número como este?
Muitos empresários expuseram para mim o receio de adotar as mudanças diante da possibilidade de a reforma ser derrubada em um próximo governo, uma próxima legislatura no Parlamento. A promessa da reforma era acabar com a insegurança jurídica. Aconteceu o contrário. A insegurança aumentou.
CC: Existe alguma margem de negociação com o governo Temer?
MT: É bem difícil negociar com um governo sem respaldo popular. Mas o Temer é o chefe do Estado e não há como deixar de ouvir se aparecer um convite, uma convocatória. Concordar é outra questão. Quando a reforma trabalhista chegou ao Senado, houve uma rebelião dos parlamentares. O governo, para evitar alterações no projeto aprovado na Câmara, prometeu editar uma Medida Provisória para incorporar as sugestões dos senadores. A promessa não foi cumprida. O governo também havia prometido ao movimento sindical uma MP para corrigir alguns pontos e regulamentar as contribuições assistencial e negocial. E até agora nada.
CC: Quais os piores pontos da reforma trabalhista?
MT: A reforma trabalhista chegou ao Congresso com 12 pontos a serem alterados na CLT. No fim, os parlamentares refizeram mais de cem cláusulas. Cito alguns absurdos. A homologação poderá ser feita na empresa, sem a assistência do sindicato ou a presença de um representante da Justiça do Trabalho. As gestantes estarão “autorizadas” a trabalhar em locais insalubres desde que tenham um atestado de um médico de sua confiança. Imagine isso no Brasil.
Quem tem médico de confiança? A empresa poderá contratar um funcionário por um número determinado de horas por semana, sem que este tenha garantia de mais dias ou horas trabalhadas. É o chamado contrato intermitente. Há a terceirização ampla, geral e irrestrita. E permitiu-se ao autônomo atuar em qualquer ramo da empresa, sem necessitar de registro na Previdência e na prefeitura, para pagamento de ISS. A organização no local de trabalho dispensará a participação dos sindicatos. O patrão terá a prerrogativa de escolher os representantes. O banco de horas deixará de ser parte de um acordo coletivo e passará a ser individual. É até difícil listar as medidas mais nefastas.
Mensagem de Miguel Torres publicada no Painel do Leitor da Folha de S.Paulo
11 maio 2014
Salve 21 de Abril, Dia do Metalúrgico
20 abr 2017