11 ago 2011
Notícias
Ao Ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior Sr. Fernando Pimentel,
Às autoridades,
Aos trabalhadores do Brasil,
“Reagir agora para
não chorar depois!”
O anúncio das medidas de Política Industrial nos deixou mais preocupados ainda, em função da falta de uma visão de longo prazo sobre os reais interesses do País, enquanto Nação.
Não se trata de uma crise passageira, mas, sim de questões estruturais que vão desmantelar nosso parque industrial. Ainda por cima, sem ouvir as Centrais Sindicais.
Vamos aos fatos:
Até a independência do país importavam-se todos os bens manufaturados; uma política deliberada da corte portuguesa, que proibia qualquer iniciativa de desenvolvimento industrial na colônia.
Troca-se o pau-brasil pela soja, o ouro e diamante por minério de ferro, bauxita e cacau pelo suco de laranja e teremos a pauta de exportações do Brasil de hoje, 100 anos depois.
É incrível, mas todo o esforço da Nação de se modernizar diminuindo a dependência externa, tendo como vetor principal a construção de uma base industrial a partir do início do século passado, parece que foi em vão, a julgar pelos rumos que nossos governantes assim determinaram.
Estamos, enquanto país, abrindo mão de uma base industrial diversificada e multissetorial construída ao longo de quase um século, para nos transformar em uma nação agro-exportadora igualzinha a que éramos até a década de 1930 (conforme já apontei em meu artigo anterior, a carta 3 à Presidenta Dilma).
Isto se deve, ao nosso ver, pela ausência de um planejamento estratégico de médio e longo prazo, que contemple, entre outras coisas, uma política industrial consistente, centrada na criação de empregos para as próximas gerações, na busca por oportunidades para o crescimento da economia e na difusão de dinamismo tecnológico, por meio de um sistema educacional consistente que privilegie o aumento da capacidade de inovação e de programas de qualificação profissional igualmente inovadores, que propiciem o alargamento de oportunidades para o crescimento da economia, que foque no aumento do conteúdo local, na agregação de valor, em políticas de defesa comercial.
Os programas de qualificação profissional devem propiciar o alargamento de oportunidades aos trabalhadores em quatro níveis:
1) aos jovens que almejam o primeiro emprego;
2) os que já estão empregados e precisam se reciclar;
3) para os que estão fora do mercado de trabalho;
4) qualificação voltada para as futuras oportunidades advindas do crescimento da economia.
Presidenta Dilma,
Sei que este tema faz parte de suas preocupações, pois ninguém melhor que a senhora sabe da importância de se ter um planejamento de médio e longo prazos quando o que está em jogo é o desenvolvimento sustentável e, por extensão, o futuro do País.
Todavia, a julgar pelas declarações do seu ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, sobre as bases da política industrial proposta pela sua Pasta, ficamos num misto de preocupação e perplexidade.
O ministro não acha que a situação é grave. Disse isso na TV.
Mesmo agora, após o anúncio, as pessoas não entendem a aplicabilidade, nem quando e nem como medir em longo prazo seus efeitos, a não ser sobre os cofres da Previdência Social, afinal, com tanta desoneração, a sustentabilidade do sistema previdenciário fica cada vez mais comprometida.
Uma postura nostálgica e equivocada, que já nos custou as desigualdades e injustiças de agora.
Como bem disse Nelson Rodrigues, subdesenvolvimento é uma construção de longo prazo. Uma pena! Um desastre para as futuras gerações.
Não esquecendo que o Estado e suas instituições precisam ser modelados para encarar tais desafios, comportando-se como parceiros desse esforço e não, como é de praxe, mantendo-se à margem do processo quando não se tornando obstáculos.
Ao invés disso, alguns números que nos chegam nos deixam ainda mais apreensivos como, por exemplo, mais de 25% dos carros vendidos no Brasil hoje foram importados. Fala-se em 1/3 das vendas em pouco tempo, em se mantendo a atual política.
Presidenta,
Em meu vídeo anexo (http://www.youtube.com/watch?v=Kmfnr9L81IY) explico o número de horas gastas por trabalhador para fazer um carro, e quantos empregos estamos gerando em outros países por conta da atual política industrial brasileira.
Aprendemos nesses anos, que somente com a justa competição de mercado, aliada ao dinamismo tecnológico e à qualificação da mão de obra é que garantiremos a manutenção e a geração de empregos de qualidade que tanto cobramos.
Todavia, as condições estruturais dadas pelo Estado brasileiro através de suas políticas em apoio ao setor produtivo-industrial do País estão aquém das políticas adotadas por países que concorrem diretamente conosco no mercado internacional.
Juros altos, infraestrutura precária, carga tributária elevada, burocracia paralisante e um sistema de formação que não avança num mundo em constante transformação, são algumas de nossas fragilidades.
Ainda temos aqui empresários espertalhões, que se escoram no governo, e por trás praticam uma política odiosa de alta rotatividade de empregos com salários aviltantes, e que não estão nem aí para o futuro do Brasil, impedindo o crescimento profissional dos seus trabalhadores.
Precisamos separar o joio do trigo através de instâncias de decisão (de preferência tripartite) capazes de construir agendas setoriais consistentes e, ao mesmo tempo, promover o isolamento destes maus empregadores.
Mais uma vez, as atuais medidas “protegem” temporariamente os bons, mas os maus empresários também! Isso não está certo, Presidenta!
Mas, temos virtudes do ponto de vista institucional que nenhum dos países que compõem o chamado BRICs (Brasil, Rússia, Índia e China) possuem.
Somos uma Nação democrática, com uma sociedade cada vez mais participativa e sabedora dos seus direitos.
Uma Nação que cobra de seus dirigentes uma postura cada vez mais ética e propositiva, em consonância com as demandas reais do País.
Presidenta Dilma, nós já sabemos, por exemplo, o que é a China; uma grande Nação, segunda economia do mundo que desponta como a nova potência do século XXI etc. etc. etc.
Mas vamos dizer agora o que a China não é:
– a China, Presidenta, não é uma democracia, mas sim uma ditadura, a qual países sérios não podem apoiar;
– não é uma economia de mercado nos moldes como determina a Organização Mundial de Comércio (OMC) dos quais somos signatários;
– não respeita os mais elementares direitos dos seus trabalhadores, sufocando-os com práticas que nos remontam ao início da revolução industrial, fato este, aliás, que será objeto de uma ação nossa de protesto junto à Organização Internacional do Trabalho (OIT).
– vem sistematicamente burlando as medidas que o Estado brasileiro, acertadamente, vem combatendo por serem práticas desleais de comércio, utilizando-se da Argentina para entrada de seus produtos em nosso território.
– não tem imprensa livre. Lá, um trabalhador como eu, se mandar uma carta ao Presidente Hu Jin Tao, vai preso e desaparece. A China não é bom exemplo! A China é mau exemplo!
Neste jogo, o único sentimento que não podemos dispor é da ingenuidade ideológica. Por incrível que pareça, ainda tem companheiros saudosistas que querem enxergar na China um referencial político ideológico da mesma maneira que víamos há 30 anos, na época da guerra fria.
Uma lástima!
Cada pais defende sua gente. Nós não estamos defendendo a nossa como poderíamos e deveríamos. Ou temos políticas de Estado, de longo prazo, consistentes, onde nossos interesses enquanto Nação fiquem muito claros, ou seremos penalizados mais uma vez pelo processo histórico em curso.
O anúncio das medidas de Política Industrial nos deixou mais preocupados ainda, em função da falta de uma visão de longo prazo sobre os reais interesses do País, enquanto Nação.
Presidenta, sugeri a V. Exª. na última carta (3) a convocação de uma comissão tripartite para tratar desse assunto e oferecendo suporte que a ajudem a assumir posições firmes em defesa dos brasileiros. O nome do bicho chama-se Câmaras Setoriais.
Presidenta, conte com a gente e saiba que estamos do seu lado, pela certeza que temos, que o seu lado e o lado dos trabalhadores. Não nos deixe de fora das conversas, como aconteceu agora! Nós podemos ajudar!
Saudações da classe
Miguel Torres
Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e Mogi das Cruzes e vice-presidente da Força Sindical
Veja o vídeo no YouTube. Clique no link abaixo
http://www.youtube.com/watch?v=Kmfnr9L81IY
Mobilização da categoria metalúrgica de SP e Mogi nas fábricas – 3 de março de 2021
03 mar 2021
Posse da diretoria do Sindicato dos Metalúrgicos do Pará
25 mar 2011
92 anos de lutas de conquistas
27 dez 2024
Feliz 2025
13 dez 2024