Maior problema, segundo o ministro do Desenvolvimento, Miguel Jorge, está nos veículos usados
Índice de inadimplência na compra de veículos em setembro supera a média anual desde 2004, mostram dados das financeiras
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA – DO “AGORA”
O ministro do Desenvolvimento, Miguel Jorge, disse ontem que o aumento da inadimplência nos financiamentos de veículos usados é um dos reflexos mais preocupantes da crise. Sem falar em números, ele afirmou que o nível de atrasos nos pagamentos desses empréstimos tem crescido muito nas últimas semanas.
Já no caso dos veículos novos, entre setembro e outubro a inadimplência passou de 3,6% do total dos empréstimos para 3,9%, ainda de acordo com o ministro. Jorge afirmou que esse movimento não deve ter conseqüências mais graves e que a situação é pior no caso dos carros usados.
No mercado, os financiamentos a veículos usados são chamados de “subprime Pacheco”, numa referência a três veículos antigos que já foram muito populares no Brasil: Passat, Chevette e Corcel. O problema dos créditos seria seus longos prazos de pagamentos, às vezes acima de cinco anos. Para os bancos, o risco é que, depois de tanto tempo, o valor do veículo que for retomado por falta de pagamento do proprietário não seja suficiente para cobrir o valor da dívida.
A avaliação foi feita durante audiência promovida pela Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, depois que o tucano Tasso Jereissati (CE) questionou o ministro e o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, sobre o que ele chamou de “subprime” brasileiro, numa referência aos financiamentos imobiliários de alto risco cujos calotes deram início à crise financeira internacional.
No caso do Brasil, esse conceito inclui, segundo Jereissati, os financiamentos de veículos, as operações de empresas exportadoras com derivativos -que causaram grandes prejuízos devido à alta do dólar- e financiamentos de veículos.
Coutinho chamou de “excesso de retórica” essa comparação, já que, no caso dos Estados Unidos, o problema foi causado pelos muitos bancos que usaram esses créditos de difícil recebimento como garantia em outras operações financeiras, o que acabou causando um efeito cascata quando a inadimplência começou a aumentar.
Maior desde 2004
O índice de 3,83% de inadimplência na compra de veículos em setembro registrado pela Anef (Associação Nacional das Empresas Financeiras das Montadoras) supera as médias anuais desde 2004 -os dados fornecidos pela entidade só permitem esse tipo de comparação. Em setembro de 2007 (outro dado disponível), o índice foi de 3,26%, quando os valores saltaram de R$ 2,4 bilhões para R$ 3,1 bilhões.
O volume de dívidas em atraso deve atingir o pico entre fevereiro e março, chegando a 4,2%, prevê o presidente da Acrefi (Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento), Adalberto Saviolli. “Fevereiro e março são os meses com maior desemprego. Com a retração da economia e a possibilidade de mais desemprego para o ano que vem, certamente teremos impacto nas dívidas do setor.”
Segundo Saviolli, há mais dívidas nas compras de carros usados do que novos. “Os usados atingem público com renda menor, mais suscetível à crise e ao desemprego. Já quem compra carro novo geralmente tem renda maior e margem para pagar as dívidas.”