Quem recusar emprego uma vez perderá o benefício por três meses; na segunda recusa, corte será por seis meses
Cerca de 5 mi de adultos recebem o seguro no Reino Unido; opção ao corte é aceitar fazer trabalhos comunitários
VAGUINALDO MARINHEIRO
DE LONDRES
A política de cortes de gastos do governo britânico definiu agora um novo alvo: quem vive há anos do seguro-desemprego.
Foi anunciado ontem que aqueles que recusarem ofertas de trabalho ficarão sem o benefício.
Funcionará da seguinte forma: o desempregado terá de se inscrever num centro local de recolocação. Se recusar uma primeira oferta de trabalho, terá o benefício cortado por três meses.
Ao recusar uma segunda vez, o corte será de seis meses. Caso não aceite uma terceira oferta, ficará sem o seguro-desemprego por três anos seguidos.
A opção ao corte é aceitar fazer trabalhos comunitários, sem remuneração extra.
Segundo o governo, hoje cerca de 5 milhões de adultos recebem o seguro-desemprego no Reino Unido.
São 65 libras esterlinas por semana (cerca de R$ 172).
É pouco para o custo de vida local, mas é sempre acrescido de outros benefícios governamentais, como ajuda para moradia e para quem tem filhos.
Ainda segundo os dados do governo, desses 5 milhões, cerca de 1,4 milhão recebeu o benefício em 9 dos últimos 10 anos.
“As pessoas precisam entender que é melhor trabalhar do que viver do dinheiro do governo. Recusar trabalho é um pecado”, afirmou o ministro do Trabalho, Ian Duncan Smith.
A medida recebeu críticas, principalmente de ONGs que trabalham com pobres. A diretora da Oxfam no Reino Unido, Kate Wareing, disse que muitas das pessoas que vivem de benefícios querem trabalhar, mas não podem.
“Puni-las como se elas fossem criminosas não é a melhor maneira de tratar aqueles que precisam.”
Para outras entidades, sem o benefício, muitas famílias vão passar fome.
Alguns se perguntam de onde virão os empregos, uma vez que outros cortes de gastos anunciados pelo governo em outubro devem causar a demissão de pelo menos 500 mil só no setor público.
Para o vice-primeiro-ministro do Reino Unido, Nick Glegg, o sistema precisa ser mudado não só por economia, mas também porque distorce o Estado de bem-estar social. “O sistema atual desencoraja a autoconfiança e desincentiva o trabalho.”
EFEITO NA IMIGRAÇÃO
Além de reduzir os gastos com benefícios sociais, a nova medida do governo deve ter efeito na imigração.
É que a maioria dos imigrantes acaba pegando o emprego que os britânicos recusam. Há muitos latino-americanos nas empresas de limpeza. Ex-moradores do Leste Europeu fazem serviços de pintura, de encanamento e de reparos em geral.
Segundo Smith, cerca de 70% dos 4 milhões de empregos criados nos últimos dez anos foram para pessoas de outros países que vieram morar no Reino Unido.
Aguinaldo Lemos, que saiu do Brasil há nove anos e trabalha como entregador em Londres, acredita que a situação irá piorar para os imigrantes.
“Se as pessoas que nasceram aqui forem forçadas a trabalhar, não sobrará nada para a gente. Vou esperar um pouco, mas talvez seja a hora de voltar para o Brasil.”