Do Rio
Em uma década na qual 60 universidades adotaram a política de cotas raciais, aumentou no Brasil a disparidade entre a população branca e a preta e parda com ensino superior. Enquanto a presença dos brancos com 21 anos de idade nas universidades cresceu 12,1 pontos percentuais entre 1997 e 2007, na população preta e parda o crescimento foi de 6,2 pontos percentuais, de acordo com a Síntese de Indicadores Sociais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgada ontem.
Em 2007, havia 3,8 milhões de estudantes entre 18 e 24 anos de cor branca, número pouco acima dos 3,4 milhões do mesmo grupo, de cor preta e parda. Mas, enquanto mais da metade dos brancos (57,9%) freqüentava o ensino superior, apenas um quarto dos estudantes pretos e pardos cursava universidades.
A diferença, para o IBGE, mostra que ainda há “um obstáculo para a ascensão social” da população de cor preta e parda no Brasil. A hipótese para explicar esse hiato crescente entre brancos e pretos e pardos, segundo os pesquisadores, está na falta de políticas públicas no Brasil, com exceção de “iniciativas isoladas”, como o emprego de cotas para pretos e pardos adotadas por universidades públicas.
O estudo aponta que, apesar do aumento na quantidade de brasileiros na escola nos últimos anos, a qualidade do ensino ainda deixa a desejar. Do total de 1,3 milhão de pessoas de 8 a 14 anos que não sabem ler e escrever, a grande maioria (84,5%) está matriculada em alguma turma de ensino fundamental ou médio: um contingente de 1,1 milhão de crianças e adolescentes que estão nas salas de aula e, no entanto, ainda são consideradas analfabetas.
No cômputo geral, a taxa de analfabetismo de pessoas com mais de 15 anos caiu de 14,7% em 1997 para 10% – o correspondente a 14 milhões de pessoas – na última pesquisa. A relação entre as áreas rural e urbana continua praticamente inalterada: existem três vezes mais analfabetos no campo do que na cidade: 23,3% diante de 7,6%. Há dez anos, as proporções eram de 32% na área rural, ante 10,7% nas regiões urbanas.
O estudo revelou que os idosos, em número cada vez maior, têm peso importante na renda brasileira. Em mais da metade das casas com pessoas de 60 anos ou mais, os idosos são responsáveis por até 90% do rendimento mensal domiciliar, de acordo com o estudo, feito com base em cruzamento de dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2007, divulgada semana passada. Em 12,3 milhões de domicílios do país, ou 13,5%, há pelo menos um idoso.
O peso da renda do idoso é maior no Nordeste – o índice de casas onde a renda das pessoas com 60 anos ou mais garante mais de metade do rendimento familiar chega a 63,5% do total. Em todo o país, a tendência é maior nas áreas rurais, onde esse índice chega a 67,3%. A pesquisa também identificou 2,7 milhões de idosos morando sozinhos em 2007. Em 1997, esse número era de 1,5 milhão.
Segundo o estudo, a expectativa de vida do brasileiro ao nascer aumentou 3,4 anos em dez anos, para 72,7 anos de idade. O IBGE aponta expectativa de vida mais alta para as mulheres – de 73,2 para 76,5 anos. A expectativa de vida para os homens saltou de 65,5 para 69 anos. A taxa de mortalidade infantil permanece em declínio – passou de 35,2 por mil em 1997 para 24,3 por mil em 2007.
O estudo aponta que o Rio Grande do Sul foi o Estado que registrou a menor taxa de mortalidade infantil (13,5 por mil), enquanto Alagoas foi o Estado com maior taxa no ano passado (50 por mil).
Proporcionalmente, mais crianças brasileiras vivem abaixo da linha da pobreza que o resto da população. Em 2007, 45,7% da população de até 17 anos morava em casas com renda mensal per capita de até R$ 190 (considerada abaixo da linha da pobreza pelo IBGE), enquanto, no resto da população, este percentual cai para 30%.
Já as crianças de até seis anos, revela a pesquisa, são mais afetadas pela falta de saneamento básico, identificada pelo IBGE como um das causas da mortalidade infantil, por causar doenças como a diarréia. No Brasil, 62,4% dos domicílios têm todos os serviços de saneamento (esgoto tratado, água), mas, em casas com crianças de até seis anos, o índice cai para 54,5%.
Essas crianças também têm o acesso à educação infantil reduzido em até quatro vezes por causa da pobreza, segundo o estudo. A freqüência em creches de crianças de até três anos não passou de 10,8% da população desta faixa etária em 2007. Já entre os que vivem em domicílios com mais de três salários mínimos de renda per capita, o índice chegou a 43,6%.
A pesquisa identificou ainda um cenário de “queda abrupta” no número de domicílios brasileiros abaixo da linha da pobreza. Porém, o estudo mostra um abismo na distribuição da renda. De 31,8% em 2002, a porcentagem dos domicílios abaixo da linha da pobreza caiu para 23,5% em 2007. O índice corresponde a cerca de 14,1 milhões de famílias que viviam, em 2007, com renda mensal per capita de até R$ 190. A hipótese do IBGE é que programas como o Bolsa Família tenham contribuído para a emergência de parte deste grupo. (Agências noticiosas)