Folha S.Paulo
Presidente não critica países ricos em discurso, mas ouve indireta de Merkel, que ataca ações protecionistas
Petista desautoriza assessor que tinha prometido queda nos juros e afirma que só BC fala sobre esse tema
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Jens Schlueter/Associated Press |
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A presidente Dilma Rousseff e Angela Merkel, chanceler alemã, em feira em Hannover |
MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A HANNOVER
A presidente Dilma Rousseff disse ontem que o governo estuda novas medidas para proteger a economia brasileira da “guerra cambial”, que tem provocado entrada excessiva de dólares no país.
No primeiro dia de sua visita à Alemanha, Dilma criticou, a jornalistas, a “desvalorização artificial” das moedas de países ricos gerada pela injeção de capital nos mercados, que já havia chamado de “tsunami monetário”.
O fluxo da moeda estrangeira no Brasil tem valorizado o real em relação ao dólar, estimulando importações e encarecendo exportações, o que prejudica setores da indústria nacional.
Como uma das medidas iniciais, o governo ampliou na semana passada a cobrança de IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) sobre empréstimos tomados no exterior, como forma de barrar a entrada de dólar.
Diante da chanceler alemã, Angela Merkel, Dilma não repetiu a crítica em discurso na abertura da CeBIT (Feira de Tecnologia de Hannover).
Mas recebeu uma resposta da premiê alemã, que reclamou de “medidas protecionistas unilaterais”, sem citar exemplos.
“A presidente falou num tsunami de liquidez e manifestou sua preocupação quando olha para os Estados Unidos e para a União Europeia. Por outro lado, nós olhamos para medidas protecionistas unilaterais e penso, portanto, que a confiança é o caminho que devemos trilhar para sair da crise.”
Antes do encontro com Merkel, Dilma prometeu novas medidas para conter a valorização do real.
“Somos uma economia soberana. Tomaremos todas as medidas para nos proteger. Vamos ver quais as medidas, como essa que tomamos recentemente sobre o IOF.”
A presidente negou que seja favorável a uma quarentena para o capital externo, embora um integrante da comitiva tenha dito que essa é uma das ações em discussão.
A ideia consiste em impor um tempo mínimo de permanência do capital estrangeiro no país, que seria sujeito a sobretaxas caso retirado antes do prazo. “Não estou defendendo quarentena, isso é uma temeridade. Tenha dó”, irritou-se a presidente.
Para ela, a injeção de capital dos países desenvolvidos no mercado financeiro, que estimou em US$ 8,8 trilhões, gera desvalorização artificial das moedas.
De manhã, Dilma desautorizou o assessor da Presidência Marco Aurélio Garcia, que havia dito que o Banco Central irá anunciar queda dos juros esta semana. “No meu governo, é o BC, Alexandre Tombini [presidente do BC]. Nem eu nem ninguém tem autorização para falar sobre juros.”