Para presidente do BC, momento é de manter “pés no chão” e economia global terá recuperação lenta
MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A PARIS
O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, voltou a alertar para os perigos de um otimismo precipitado em relação ao fim da crise global e previu que o Brasil não escapará da instabilidade nos mercados financeiros mundiais.
Segundo Meirelles, as “correções” com que os mercados começaram a semana indicam que a recuperação da economia mundial vai ser lenta e gradual. O momento é de “manter os pés no chão”, disse.
“Não é uma situação mundial que justifique um clima de “voltou ao que era e vamos partir para a exuberância novamente”. É uma recuperação lenta, gradual e sujeita ainda a muitas dificuldades”, afirmou.
Na segunda-feira, o pessimismo derrubou a Bovespa e as principais Bolsas do mundo, depois que o Banco Mundial divulgou revisão negativa do crescimento econômico global para este ano. O dólar reverteu o viés de queda e se valorizou em 2,6%, superando os R$ 2.
Na Câmara de Comércio Brasil-França, em Paris, Meirelles lembrou “a lição dolorosa, mas útil”, das empresas brasileiras que no ano passado tiveram grandes perdas por apostarem na valorização do real.
A volatilidade observada nos últimos dias reforça a lição e representa um alerta extra “aos que apostam que as commodities e o real só vão para cima, e o dólar, para baixo”, afirmou.
“Os mercados continuam a se mover em todas as direções. Portanto, é importante manter os pés no chão, ter prudência e fazer movimentos com cuidado para evitar exageros e perdas que houve no passado”, disse.
Apesar de repetir a convicção de que o pior da crise já passou para o Brasil, Meirelles disse aos empresários que ainda “há muito trabalho a ser feito”. Entre as medidas para que a atividade econômica retorne aos níveis pré-crise, destacou o incentivo ao crédito para pequenas e médias empresas.
Para isso, Meirelles lembrou que estão “na reta final” os preparativos de um novo fundo de aval, espécie de seguro contra a inadimplência que será gerido pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
Segundo o presidente do BC, os financiamentos para grandes empresas e o crédito externo voltam à normalidade.
Meirelles prevê que a economia brasileira não se contrairá neste ano, apesar da queda no primeiro trimestre.