Sergio Leo e Janes Rocha
Brasil e Argentina já se preparam para enfrentar uma provável invasão de produtos chineses e de outros países no Mercosul. A preocupação dos dois governos decorre de previsões de que os exportadores, principalmente da China, deverão buscar de forma agressiva mercados alternativos ao americano e de outras nações ricas que estão prestes a entrar em recessão.
O assunto foi discutido com o presidente Lula na reunião ministerial de segunda-feira. O governo acredita ser possível lidar com a invasão chinesa usando os mecanismos tradicionais de defesa comercial, como sobretaxas. Muitos empresários não sabem usar esses mecanismos e o governo vai fazer um esforço para divulgá-los. “Existe uma preocupação muito grande porque os chineses são fornecedores importantes dos EUA”, disse ao Valor o ministro do Desenvolvimento, Miguel Jorge. “O Brasil é um alvo previsível”.
No entanto, o governo quer evitar medidas que possam ser interpretadas como discriminatórias, como seria o caso da imposição de salvaguardas. “O governo tem evitado recorrer à salvaguarda prevista na OMC contra os chineses, mas é possível usar a salvaguarda geral, não específica contra a China”, diz Ivan Ramalho, secretário-executivo do Ministério do Desenvolvi-mento. Há grande preocupação dos empresários com a entrada de brinquedos para o Natal. Nesse segmento, o governo espera obter, em novembro, um compromisso da China de conter voluntariamente suas exportações.
Na Argentina, o Ministério da Economia pretende colocar em vigor um sistema regulamentado há um mês que reduz de 24 para 12 meses o prazo médio para análise de processos antidumping. Além de proteger a indústria local, a medida responde a uma demanda interna do empresariado, que pede desvalorização do peso frente ao dólar e estímulos à produção.
Afastada do mercado internacional de crédito desde a moratória, a Argentina não está sofrendo impactos da crise, a não ser pelos mercados de ações e bônus que despencaram como em todo o mundo. Mas o secretário de Finanças do Ministério da Economia, Hernan Lorenzino, previu no Congresso que a desaceleração econômica também vai atingir o país.