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BC vai emprestar até US$ 36 bi das reservas do País


Nova linha de crédito do Banco Central será destinada a empresas brasileiras com dívidas no exterior

Fernando Nakagawa, BRASÍLIA

O Banco Central (BC) está disposto a emprestar até US$ 36 bilhões das reservas internacionais às empresas brasileiras com dívidas no exterior. Atualmente, as reservas somam US$ 200 bilhões. A informação foi dada ontem pelo presidente do BC, Henrique Meirelles, ao anunciar as regras de funcionamento dessa nova linha de crédito – cujos principais pontos foram antecipados na edição de ontem do Estado.

“Esse será um passo importante para regularizar o mercado de crédito.” Com a crise, bancos reduziram os empréstimos em dólar, o que obrigou companhias a tomar financiamento em reais ou comprar dólares no Brasil para quitar a dívida.

Conforme levantamento do BC, as dívidas de companhias brasileiras no exterior com vencimento entre outubro de 2008 e dezembro de 2009 – as que podem se candidatar aos empréstimos – somam US$ 36 bilhões.

Meirelles, porém, está confiante na volta gradual do crédito e acredita que até metade desse valor poderá ser pago sem a ajuda do BC. “A expectativa é que as empresas consigam renovar entre 40% e 50% do valor. Assim, temos a expectativa de que vamos repassar cerca de US$ 20 bilhões.”

O valor que Meirelles espera emprestar corresponde a 10% das reservas. Mesmo com a perspectiva de comprometer tal parcela, o presidente do BC avalia que, nas atuais condições, o Brasil consegue oferecer o crédito sem precisar buscar recursos extras, como a linha de US$ 30 bilhões oferecida pelo Federal Reserve, o BC dos Estados Unidos.

Ele também rebateu críticas de que o País vai usar esses dólares para beneficiar empresas. “Este é o uso perfeito das reservas, que são feitas para ser usadas”, disse, ao lembrar que a estratégia tem sido usada na Europa e que os dólares serão devolvidos em até um ano, com juros.

O economista-chefe do Unibanco, Marcelo Salomon, disse que as medidas sobre novas linhas de crédito com recursos das reservas internacionais devem ter impacto importante no sentido de normalizar o mercado de crédito e restaurar o clima de confiança internamente.

Empresas com dívida no exterior que queiram usar recursos das reservas internacionais devem procurar bancos que operam no Brasil para verificar a taxa de juro cobrada por essas instituições. Os bancos são livres para determinar a taxa cobrada dos clientes, a depender de fatores como o relacionamento e risco. Escolhida a instituição, a empresa informa valores e vencimentos da dívida e formaliza o empréstimo.

De posse dos dados, o banco os entrega ao BC, que analisa as transações. A empresa pode conseguir rolar até 100% da dívida. Os dólares sairão do BC para o banco, em datas estabelecidas. Por fim, a instituição transfere o dinheiro aos clientes, que têm um ano para devolvê-lo.

Os bancos que participarem do empréstimo terão de pagar à autoridade monetária juro preestabelecido de 1,5% sobre a taxa Libor, principal referência no mercado financeiro de Londres. Segundo Meirelles, a taxa segue o padrão do juro praticado no repasse de dólares ao financiamento dos exportadores, via Adiantamento de Contrato de Câmbio (ACC). As primeiras operações terão os dólares transferidos em 27 de fevereiro e 13 e 27 de março.

O presidente do BC também defendeu o trabalho da autoridade monetária em tempos de crise. “O BC reagiu de forma rápida e bastante agressiva”, afirmou Meirelles.