Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos

Notícias

Bancos no País promovem exclusão social, mostra estudo do Ipea

O Brasil tem um sistema bancário incompleto, que contribui para a concentração de riqueza e aumento da exclusão social. É o que mostra o estudo do Ipea divulgado por meio do Comunicado 20 da presidência do instituto apresentado pelo presidente Marcio Pochmann.

Denominado “Transformações na indústria bancária brasileira e o cenário de crise”.

O estudo mostra que o esvaziamento do Estado no mercado financeiro brasileiro em nada beneficiou a inclusão social e a popularização bancária. Com números do BC e de outras fontes, o estudo mostra ainda o aumento da concentração bancária.

Entre 1996 e 2006, a participação dos 20 maiores bancos nos ativos totais do sistema financeiro nacional saiu de 72% para 86%. Segundo o levantamento, a decisão da autoridade monetária de privatizar boa parte do sistema bancário oficial, na década de 1990, deu resultado.

O número de bancos estatais foi reduzido em 59,4%, no período de 1996 a 2007, com a arrecadação de US$ 6,5 bilhões. E a participação dos públicos no total de ativos do sistema caiu de 52% para 30%, no mesmo intervalo, representando 8,3% do total de bancos.

O Ipea mostra ainda que houve um encolhimento de 32,2% na quantidade de bancos em geral, também no período de 1996 a 2007. A consequência foi o aumento na presença dos bancos estrangeiros, que passaram a representar 36,6% do total atuando no País.

Outro ponto destacado no estudo é a concentração geográfica do crédito bancário, onde as regiões Sul e Sudeste respondiam por 84% do crédito ofertado em todo o País. O juro elevado praticado no Brasil, destaca o Ipea, gera para os bancos estrangeiros um ganho “quase 10 vezes mais elevado” nos empréstimos a pessoas físicas.

E “quatro vezes maior” no crédito a empresas, em relação ao lucro que os estrangeiros obtém com as mesmas operações em outros Países. O Ipea destaca as dificuldades que ainda persistem para ampliar o acesso ao atendimento bancário.

O estudo conclui afirmando que “a qualidade do sistema bancário brasileiro e seus mecanismos de regulação” são fortes elementos do País contra efeitos mais severos da crise financeira internacional.

“De fato, quando são comparados os resultados obtidos no Brasil com os Países da América do Norte, Europa Ocidental e Japão, no momento atual, essa constatação é de difícil refutação”, diz o Ipea.

A redução da quantidade de bancos em operação nos últimos onze anos contribuiu ainda para promover mais desigualdade regional.
“Nos últimos dez anos, houve uma transferência de recursos que serviam de crédito para as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste do Brasil para uma maior concentração na região Sudeste”, apontou Pochmann.

Segundo o estudo, “ao contrário dos Estados Unidos, que combinou a redução na quantidade de bancos com ampliação do número de agências bancárias, o Brasil apresentou diminuição na quantidade tanto de bancos como no número de agências.”

Em 2007, por exemplo, o País possuía somente 156 instituições bancárias, enquanto a Alemanha registrou 2.130 bancos e os Estados Unidos 7.282 bancos.

A principal fase de redução da presença dos bancos públicos no Brasil ocorreu entre 1995 e 2001, com uma breve interrupção entre 2001 e 2003, quando voltou novamente a perder importância relativa no total de ativos bancários.

Em 2007, o Brasil tinha menos agência por brasileiro do que na década de 80, quando havia, para cada agência, cerca de 8 mil brasileiros. A diferença regional indicada no estudo é alarmante quando se pensa em desenvolvimento de médio e longo prazo no País.

“Nas regiões Norte e Nordeste, por exemplo, a relação da população por agência chega a ser quase três vezes maior do que nas regiões Sul e Sudeste”, diz o Ipea. Entre 1996 e 2006 as três regiões acumulam uma perda de 41,4% na participação relativa no total de crédito.

O estudo observa que houve avanço da experiência brasileira de popularização de serviços bancários por intermédio das operações de correspondentes não bancários.

“No ano de 2008, por exemplo, o Brasil registrou a presença de 84,3 mil correspondentes bancários operados em locais não bancários como padarias, postos lotéricos, correios, farmácias, entre outros”, afirma.

Esses avanços, no entanto, não são ideais. “O Brasil precisa avançar rapidamente do ponto de vista da popularização dos bancos”, defendeu Pochmann.

Ele considera que a constituição de novos bancos, “bancos comunitários como existem nos Estados Unidos e Alemanha, por exemplo, ajudaria não apenas a difundir o crédito, mas torná-lo mais acessível à população que se encontra fora do sistema bancário”. (Com Valor Econômico, no blog O outro lado da notícia)