As centrais sindicais, as confederações e todas as entidades dos trabalhadores não devem confundir as eventuais negociações que estão ocorrendo com o afrouxamento de nossas pressões contra as “deformas”.
As negociações, cujos protagonistas são os partidos políticos e suas lideranças e que têm, às vezes, direções sindicais como coadjuvantes, visam modificar aqui e ali pontos específicos e atendem, muitas vezes, a interesses que não são os nossos. Elas estão submetidas à contradição entre a pressa do Executivo em entregar ao mercado o prometido e as preocupações dos agentes políticos – principalmente deputados e senadores – com seu futuro eleitoral; o nosso peso específico é mínimo nessas negociações.
Há, por exemplo, pressa do Executivo no encaminhamento da “deforma” trabalhista no Senado que enfrenta resistência dos senadores e procrastinação evidente na Câmara com os deputados da base de olho no Senado e “querendo o seu”, para se garantir nas votações previdenciárias. Isto pode alterar a cada momento os cronogramas.
Outro caso é o da nossa pressão, que deve ser contínua.
Ela se dá no clima político criado pela vitória da jornada do dia 28 e deve persistir nas discussões com os senadores, na marcação cerrada dos deputados e com as mobilizações previstas pelas centrais.
O cronograma complicado em Brasília – que envolve o Executivo, o Senado e a Câmara e todas as suas contradições – impõe às direções sindicais o senso de ritmo para que nossa pressão se exerça forte, onde e quando se fizer necessária. Eventuais adiamentos, eventuais mudanças, eventuais formas alternativas de luta não podem e não devem significar (nem mesmo simbolicamente) deserção da luta e, principalmente, negociação comprometida e comprometedora. Nada ganhamos com isso.
Se o bambu está fincado do lado grosso sua ponta pode flutuar para um lado ou para outro; o impossível seria uma situação firme com o bambu fincado pela ponta fina.
Por João Guilherme Vargas Netto, consultor sindical