Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos

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Avanço do dólar já se reflete na inflação

Mais sensível às variações da moeda norte-americana, IGP-10 subiu acima do esperado nos primeiros dias de outubro

Analistas, porém, afirmam ser cedo para avaliar se os efeitos da desaceleração na economia pesarão mais que os do câmbio na inflação

MARIA CRISTINA FRIAS – DA REPORTAGEM LOCAL

A elevação do dólar já se reflete nos preços acompanhados pelo IGP-10 (Índice Geral de Preços), mas ainda não está claro se os efeitos da contração da atividade irão se sobrepor aos do câmbio sobre a inflação.

Para analistas do Unibanco, reflexos da desaceleração e diminuição da oferta de crédito devem ultrapassar os do real mais fraco e são eles que deveriam guiar as próximas decisões do Banco Central relativas aos juros básicos.

O IGP-10, que é particularmente sensível às variações da moeda norte-americana, veio acima do esperado nos primeiros dias de outubro. O consenso de mercado era de uma alta 0,55%, mas o índice subiu 0,78% neste mês.

A elevação de preços se deu sobretudo no segmento industrial, o IPA-Industrial. Esse componente do IGP subiu de 0,63% no mês passado para 1,14% em outubro.

Os efeitos colaterais de um real mais fraco se registraram em vários setores da economia, principalmente papel (alta de 2,74%), químico (elevação de 2,73%) e vestuário (2,32%).

Alguns produtos agrícolas subiram muito, como feijão (alta de 13,51%) e tomate (aumento de 12,76%).

A queda de algumas commodities, como trigo (que caiu 7,54%) e o milho (que recuou 6,24%), não compensou aquelas pressões inflacionárias. Assim, o segmento agrícola, o IPA-Agrícola, foi de uma deflação de 4,3% em setembro a um aumento de 0,54% neste mês.

Para o analista do departamento de pesquisa macroeconômica do Unibanco, Adriano Lopes, não se deve “subestimar os efeitos diretos, e possivelmente indiretos, sobre os preços de uma taxa de câmbio mais fraca”.

Mas, de acordo com Lopes, “os efeitos deflacionários da desaceleração econômica e da contratação do crédito vão ultrapassar o do dólar no balanço de riscos e deveriam guiar a política monetária”.

Preocupação

Se o real prosseguir mais fraco, contaminando os próximos IGPs, num cenário de forte demanda doméstica, a preocupação com que isso passe para preços no varejo deve crescer novamente em vários setores da economia.

Riscos de uma desaceleração mais forte na economia e uma contração substancial no crédito local devem levar a uma desinflação a médio prazo, de acordo com Lopes.

Para Marcelo Ribeiro, analista da Pentágono Asset Management, porém, o real deve continuar mais desvalorizado, e seu impacto deve prevalecer sobre a inflação.

“Com a continuidade do processo de desalavancagem dos lares americanos, hedge funds [fundos de investimentos mais agressivos] e bancos, o dólar vai ficar escasso em todo o mundo e vai continuar se apreciando contra as moedas emergentes.”

juros

“O câmbio ainda não se estabilizou no Brasil. O mesmo vale para a atividade econômica. Ainda é cedo para avaliar a extensão do impacto do dólar e da atividade”, explica Ribeiro, da Pentágono Asset Management.

Para o analista, é necessário aguardar um pouco mais a estabilização dos mercados globais para que o Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) tenha melhores condições para definir a direção e a intensidade do movimento da taxa básica de juros, a Selic.

“A expectativa é a de que o Copom deverá manter os juros em sua próxima reunião”, afirma Ribeiro.