Indústrias previam investimentos de US$ 2,2 bilhões no próximo ano, mas agora a ordem é esperar para ver
Cleide Silva
A indústria brasileira de autopeças, que previa investimentos de US$ 2,2 bilhões em 2009, já não garante a aplicação total desses recursos por causa das incertezas sobre a economia mundial decorrentes da crise nos Estados Unidos, que se espalha para outras regiões.
“Neste momento, não podemos assegurar que as empresas manterão seus planos, pois vai depender muito do que ocorrer daqui para frente”, diz o presidente do Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças), Paulo Butori.
Segundo ele, as restrições no crédito mundial terão impacto nas empresas que atuam no País, pois a maioria são multinacionais que recorrem à captação externa, mais barata que a interna.
Os US$ 2,2 bilhões são o aporte necessário por parte da cadeia de fornecedores de componentes para que a indústria automobilística possa cumprir seus planos de atingir capacidade produtiva de 4 milhões de veículos em 2009, sem correr riscos de desabastecimento.
Para este ano, as projeções estão mantidas e o setor de autopeças deve investir US$ 1,6 bilhão e obter faturamento recorde de US$ 46,5 bilhões, 29,3% mais que em 2007. Em reais, o crescimento será menor, de quase 10%, para R$ 76,7 bilhões. “O ano está fechado e qualquer impacto que possa ocorrer no mercado só terá reflexos daqui a dois ou três meses, avalia Butori.
RECUPERAÇÃO
O mercado de veículos, de fato, ainda não sentiu nenhum efeito e até recuperou-se em setembro, depois da queda de 15% nas vendas em agosto, em relação a julho.Com 268,7 mil automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus vendidos, foi o melhor setembro da história e o segundo melhor mês do ano, atrás de julho, quando foram licenciados 288,1 mil veículos.
Em relação a agosto, as vendas cresceram 9,78% e, na comparação com setembro de 2007, o aumento foi de 31,7%. No ano, as vendas somam 2,208 milhões de unidades, 27% mais que em igual período de 2007. Somente no segmento de automóveis e comerciais leves as vendas até agora somam 2,098 milhões de unidades, um aumento de 26,9% em relação ao período de janeiro a setembro de 2007. A previsão das montadoras é de encerrar dezembro com vendas totais de 3 milhões de veículos, 24% acima do resultado de 2007.
Ontem, Butori não quis fazer projeções para 2009, “pelo menos até novembro”. Para ele, mesmo com a aprovação do socorro aos bancos nos EUA, é possível que ocorra uma redução da atividade econômica no mundo e certamente “vai se refletir no nosso mercado, principalmente no tocante ao crédito.”
Antes da turbulência, Butori apostava em crescimento de 8% a 10% nas vendas ao mercado interno em 2009. “Mas agora já não sei”, disse. Ele teme que a alta dos juros bancários mude o comportamento do mercado.