Funcionários trabalham um dia a menos na semana e para ganhar menos; garantia de emprego é de 4,5 meses
Cleide Silva e Sandra Hahn
Na tentativa de salvar empregos, um número cada vez maior de trabalhadores está aceitando salários menores. Ontem, os 800 funcionários da autopeça Valeo, fabricante de faróis e lanternas, aprovaram em assembleia um corte de 15% nos pagamentos mensais. A redução vai vigorar durante três meses, período em que eles vão trabalhar um dia a menos por semana. Em troca terão 4,5 meses de garantia de emprego.
Segundo Miguel Torres, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, ligado à Força Sindical, foi o primeiro acordo desse tipo fechado pela categoria na cidade de São Paulo. Hoje, mais duas empresas do mesmo setor, a MWM, fabricante de motores com 2 mil empregados, e a Sabó, que faz retentores e tem 3 mil funcionários, votam propostas semelhantes.
Torres informa que, só ontem, o sindicato reuniu-se com representantes de 12 metalúrgicas que negociam algum tipo de flexibilização das regras trabalhistas. Neste ano, a entidade já foi procurada por cerca de 120 empresas, a maioria do ramo automobilístico, para discutir medidas para evitar cortes como banco de horas e suspensão dos contratos de trabalho.
“Algumas afirmam que precisam demitir, mas não têm dinheiro para pagar indenizações”, diz o sindicalista. As vendas de carros caíram em outubro e novembro, e voltaram a se recuperar em dezembro, após o governo reduzir os impostos dos carros. Neste mês, os negócios devem ficar próximos aos de dezembro, quando foram vendidos 194,5 mil veículos.
No caso da Valeo, estavam em jogo 200 empregos, ou 25% do quadro atual. “Criamos um grupo específico no sindicato com economistas, advogados e técnicos que preparam os dirigentes sindicais para as negociações”, afirma Torres.
Segundo ele, as empresas precisam provar, com documentos e balanços, que passam por dificuldades para que a redução de salários seja aceita nesse período de crise. A direção da Valeo não quis comentar o assunto ontem.
Em Porto Alegre (RS), 4,7 mil funcionários do grupo Randon também vão trabalhar quatro dias por semana nos meses de fevereiro, março e abril. Pelo dia parado, eles receberão metade do salário. A Randon ainda não calculou a economia total com a medida.
Na despesa com folha de pagamento, a redução deve ser entre 8% e 10%, informa Maria Tereza Casagrande, gerente administrativa corporativa da Randon, fabricante de implementos rodoviários, ferroviários, veículos especiais, autopeças e sistemas automotivos.
Em outra unidade do grupo, a Fras-le, serão adotadas férias individuais em fevereiro, que não atingirão todo o quadro de pessoal. Hoje, dos 2,4 mil funcionários, 600 estão em férias.
DEMISSÕES
Somente em novembro e dezembro, as montadoras de veículos e tratores demitiram 3,2 mil trabalhadores, após 22 meses seguidos de contratações. O setor de autopeças, que ainda não divulgou dados oficiais, calcula que mais de 8 mil postos de trabalho foram fechados no último trimestre. Este mês, várias empresas já anunciaram novos cortes, entre elas a GM, a TRW e a Magneti Marelli.
Medidas de flexibilização das regras trabalhistas estão previstas na CLT, mas nem todos os sindicatos de trabalhadores aceitam a redução dos salários, principalmente se não há compromisso da empresa em manter empregos.