Adriana Fernandes – O Estado de S.Paulo
A equipe econômica e os líderes do governo na Câmara dos Deputados e no Senado passaram a limpo ontem a agenda de projetos em tramitação no Congresso que podem trazer riscos para o equilíbrio das contas públicas em ano de eleições. A temperatura de pressão em cima dos parlamentares vai crescer a partir de agora com a campanha eleitoral nas ruas. E a votação de propostas que tratam do reajuste para aposentados e o valor salário mínimo é simbólica, pela mistura explosiva entre forte apelo popular e impacto nas finanças públicas.
O governo procura mostrar firmeza nas negociações, mas nos bastidores busca uma solução intermediária que também não leve a descontentamentos que prejudiquem sua candidata à Presidência, a ex-ministra Dilma Rousseff.
Se os parlamentares não querem ficar mal com os eleitores, a área econômica não pode sinalizar descontrole com as despesas do governo. Um sinal fiscal ruim agora é ingrediente a mais no combate ao processo de aceleração da inflação, provocado pelo descompasso entre a oferta e demanda na economia que deverá levar o Banco Central a aumentar os juros na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom).
Os analistas econômicos têm mostrado cada vez mais desconforto com o que classificam de pouco esforço do governo em controlar as despesas. Por isso, uma “vista grossa” agora na reta final do mandato do presidente Lula com os projetos que podem contaminar as contas públicas é considerado temerário. Além disso, ceder na votação dos projetos de reajuste das aposentadorias pode abrir a porteira para outros projetos no Congresso, como o que prevê aumentos salariais dos servidores, principalmente do Judiciário.
Com a faca no pescoço para garantir a credibilidade da política fiscal depois do afrouxamento adotado no ano passado para enfrentar a crise, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, tenta se antecipar e participar mais ativamente das negociações para evitar surpresas desagradáveis à frente. Nas contas da equipe econômica, um reajuste de 7,9% para benefícios acima do salário mínimo, como vinha sendo reivindicado pelos aposentados – muito além dos 6,14% previstos na MP que tramita na Casa -, pode trazer um custo de cerca de R$ 2 bilhões a mais por ano nas contas da Previdência.
O deputado Paulinho da Força (PDT-SP) relativiza e diz que o custo adicional seria de R$ 1 bilhão por ano, caso o índice fique em 7%, como vem sendo discutido pelos líderes da base aliada. Em qualquer caso, a conta é alta. Mas pode ser necessário entregar os anéis para não perder os dedos.