Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos

Movimento Sindical

Assembleia Legislativa de SP sedia debate ´50 anos do golpe e a repressão aos trabalhadores´

Alexsander Wilson Gonçalves

Participantes encerram o debate com a alegria consciente de que vale a pena lutar 

O golpe de 1964, que deu origem a uma terrível e criminosa ditadura militar de 21 anos no Brasil, foi planejada para acabar com a organização dos trabalhadores, evitar os avanços sociais da maioria da população e perpetuar os privilégios econômicos de uma minoria elitista e conservadora.

Este foi o principal ponto em destaque no debate “50 anos do golpe militar e a repressão aos trabalhadores”, realizado pelo Centro de Memória Sindical, Força Sindical e UGT nesta sexta-feira, 25 de abril, na Assembleia Legislativa de São Paulo, com presença de dirigentes sindicais, que sofreram perseguições na época, líderes políticos e estudantes.

O evento teve como palestrantes: João Carlos Gonçalves, o Juruna, secretário-geral da Força Sindical e diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo; Nair Goulart, vice-presidenta da CSI, presidenta da Força Sindical Bahia e ex-diretora do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo; Walter Barelli, ex-diretor técnico do Dieese e ex-Ministro do Trabalho; Ivan Seixas, coordenador da Comissão Estadual da Verdade “Rubens Paiva”; Domingues Fernandes e Waldir Vicente, da UGT; Vital Nolasco, ex-diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo; e Adriano Diogo, presidente da Comissão da Verdade do Estado SP.

Participaram da abertura do debate: o deputado estadual Antonio de Souza Ramalho, presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil de São Paulo; Mônica Veloso, vice-presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos (CNTM) e secretária municipal de Osasco; Milton Cavalo, presidente do Centro de Memória Sindical; e Washington Santos Maradona, diretor da UGT. 

Miguel Torres, presidente da Força Sindical, CNTM e Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, foi representado na mesa de abertura pela diretora da Força Sindical Eunice Cabral, presidenta do Sindicato das Costureiras de São Paulo.

Para os participantes, atualmente, a unidade do movimento sindical em ações pela manutenção e ampliação dos direitos é um contraponto fundamental contra a exploração do capitalismo global e para o desenvolvimento da democracia brasileira, com justiça social, cidadania e liberdade.

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Mônica, Eunice, Ramallho, Maradona e Milton Cavalo

Depoimentos

“O debate é oportuno porque serve para contar a história da repressão contra os trabalhadores (pelos seus depoimentos) e do heroísmo deles, além de desfazer lendas criadas sobre o golpe de 1964”, disse Ivan Seixas, integrante da Comissão Estadual da Verdade. Segundo ele, “os operários foram muitos discriminados”. Um levantamento sobre o perfil dos que foram presos e sofreram perseguições mostra que 60% eram trabalhadores. A ditadura implantou um projeto sócio-econômico e político baseado na repressão e no arrocho salarial, declarou Seixas.

Barelli destacou que o golpe de 1964 foi contra a classe trabalhadora organizada e contra a política salarial (que até hoje não recuperou o nível salarial de 1964) e também acabou com a estabilidade no emprego. Em 1973, o Dieese denunciou a manipulação pelo governo federal dos índices oficiais da inflação. Os sindicatos passaram a lutar por reposição salarial. Naquela época, Barelli era o diretor-técnico da instituição.

Para Barelli, além dos que foram presos, torturados e cassados, é preciso contar também a história dos que assumiram os sindicatos naquele período e sofreram com a infiltração da polícia nas assembleias, foram presos e perseguidos, mas resistiram e possibilitaram a retomada do movimento sindical com mais força.

A sindicalista Nair Goulart, mineira de nascimento, começou a sua militância política no movimento da igreja em Minas Gerais. Pertenceu à Organização Revolucionária Marxista Política Operária (Polop), trabalhou em várias categorias, como doméstica, tecelã, comerciária, e depois foi metalúrgica no Rio de Janeiro e em São Paulo, onde foi presa.

Apesar das perseguições, Nair não esmoreceu e continuou a luta no movimento sindical, onde comandou o I Congresso Nacional da Mulher Trabalhadora Metalúrgica. Hoje, além da Força Bahia, Nair é vice-presidente da CSI (Confederação Sindical Internacional) e vice-presidente da Força Sindical.

Para Nair, “enquanto os trabalhadores ficam divididos, o capitalismo avança e a direita tem conquistado espaço. Temos que dar conta desta enorme tarefa que está colocada para nós”, ressalta.

Na abertura dos debates, os sindicalistas elogiaram a atitude do secretário-geral da Força Sindical, João Carlos Gonçalves, o Juruna (foto ao lado), pelo empenho para manter o Centro de Memória Sindical e por trabalhar a unidade das centrais sindicais.

Antonio de Sousa Ramalho, presidente do Sintracon-SP (Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Civil de SP) foi um dos que destacou a importância da atuação de Juruna e lembrou que muitos sindicalistas desapareceram, inclusive na entidade que preside. Já Eunice Cabral, que representou o presidente da Força Sindical, Miguel Torres, disse que “não podemos permitir a volta da repressão e da ditadura militar”. Ela criticou também a “ditadura da mídia”, que só divulga o que é de interesse da elite.

Mônica Veloso, vice-presidenta da CNTM, lembrou que as pessoas não se submeteram e não se curvaram. “Precisamos conhecer a nossa história e repudiar as tentativas de retrocesso democrático no País. Ditadura, nunca mais!”, disse Mônica.

Milton Cavalo, presidente do Centro de Memória Sindical, explicou o papel da entidade, que, além de preservar o acervo do movimento sindical, também promove eventos para levar o conhecimento aos trabalhadores.

Washington dos Santos, o Maradona, da UGT, destacou a importância dos debates realizados pelo Centro de Memória. “Hoje é uma data de reflexão. As novas gerações têm o privilégio de fazer um monte de coisas, de obter muitas informações e não devem perder a oportunidade de conversar diretamente com as pessoas que sofreram com cassações, prisões e torturas, além de lutar contra a ditadura”.

Por Val Gomes – Redação CNTM e Dalva Ueharo – Redação Força Sindical
Com informações do Centro de Memória Sindical: www.memoriasindical.com.br