No mesmo dia em que os jornalões anunciaram em suas primeiras páginas que a Petrobras havia tido o maior lucro de sua história os ativistas da FUP reuniram-se em assembleias para aprovar a suspensão de seu movimento grevista de quase três semanas de duração.
Com efeito, decretada a greve em 1º de fevereiro e crescente ao longo dos dias, a paralisação chegou a contar com a adesão de mais de um terço dos efetivos da empresa e embora não tenha afetado a produção nem arriscado o desabastecimento conseguiu furar o silêncio da mídia grande e suscitar adesões em um amplo espectro do movimento sindical, da oposição e da esquerda.
Os principais motivos do movimento e bandeiras da greve foram a intempestiva demissão (com anúncio de fechamento da fábrica) dos trabalhadores da Fafen, de Araucária e o não cumprimento dos termos do recente acordo coletivo pela empresa.
Ao longo de suas quase três semanas de duração o movimento grevista foi apoiado também por bases da FNP, que enviou ao presidente da República uma carta reafirmando suas posições e que não foi respondida pelo destinatário.
A Petrobras procurou e obteve votos monocráticos favoráveis da Justiça, seja do TST, seja do STF e combinando uma tática de silêncio interesseiro, de promessas vagas e ameaças concretas, de contratação emergencial de trabalhadores procurou esticar a corda (sem recorrer à repressão aberta) evitando modificar suas posições nos dois pontos em litígio e enfatizando o tempo todo a não diminuição de sua produção.
Mas o TRT do Paraná, também em determinação monocrática, suspendeu as demissões na Fafen (até um julgamento coletivo) e um conjunto de pressões decorrentes do próprio movimento grevista, de aliados parlamentares, de movimentos sociais de apoio e de outras categorias de trabalhadores fez com que o próprio juiz federal que havia imposto sanções concordasse em reassumir o papel de mediador (saudado pela nova presidenta do TST) e marcasse uma reunião de conciliação para negociações na qual se espera a quebra da intransigência da empresa.
Se as negociações tiverem êxito, mesmo que parcial, os petroleiros podem gritar vitória porque conseguiram com sua greve em movimento – sem afetar a produção, sem causar tumultos ou provocar transtornos sociais – avançar nos pontos principais de sua pauta grevista, colhendo as rosas sem se machucar com os espinhos.
João Guilherme Vargas Netto é consultor sindical