Home Notícias Organizações IndustriALL As Redes Sindicais Internacionais
22 fev 2013
IndustriALL
A idéia de criar Redes Sindicais Internacionais, para fazer avançar a defesa dos direitos dos trabalhadores, não é nova. Há alguns anos, filiados no Sindicato dos metalúrgicos da Alemanha – o IG Metall – que eram trabalhadoras e trabalhadores do consórcio Volkswagen em Wolfsburg, reconheceram como era importante a construção e o desenvolvimento da cooperação e do diálogo com todas as plantas da VW no mundo, para defesa dos seus interesses a nível mundial. Para isso, utilizaram os valiosos e longos contatos que já tinham em todos os países.
Consequência disso foi a criação do Grupo de trabalho Intersoli, no ano de 1982, sediado na Representação local do IG Metall em Wolfsburg, bem em frente da VW, seguido depois em 1990 pela criação do Conselho de Empresa Europeu da VW e, em 1998, pela criação do Conselho Mundial dos Trabalhadores do Consórcio VW. Podemos dizer que as Redes Sindicais nasceram, portanto aqui.
No final deste processo, que surgiu sobretudo ao nível das várias plantas da VW e foi sempre acompanhado pelo Sindicato, foi sentida a necessidade de formar então o que se apelidou de Rede Sindical “Alemã-Ibero-Americana”, cuja Ata de fundação foi assinada no dia 26 de Janeiro de 2005 por oito Representantes Sindicais – entre eles a CNM/CUT do Brasil – em Buenos Aires. Com isso começou a escrever-se um novo capítulo da História sindical internacional.
Os objetivos então perseguidos eram:
Estes objetivos de então, pouco ou nada diferem dos que hoje são perseguidos por outras Redes, entretanto existentes.
Hoje, sabemos mais e melhor sobre as dependências recíprocas e sobre os conflitos existentes. Experimentamos cada vez de uma nova forma, como é difícil colocar as questões internacionais e sobretudo um comportamento solidário – muito mais em épocas de crise – por cima dos interesses nacionais e locais. Por isso é que as Redes Sindicais são um meio adequado para se fazer trabalho sindical internacional, para, dessa forma, possibilitar a Globalização dos Direitos dos Trabalhadores.
O exemplo do Brasil
No decorrer do tempo, mais de mil empresas alemãs escolheram o Brasil como local para fazerem seus excelentes negócios. Elas sentiram-se atraídas pelas matérias-primas aqui existentes, pela força de trabalho dos Brasileiros, pelo imenso mercado latino-americano e também pelas bem mais propícias leis laborais do país. Um grande número dessas empresas faz parte do nosso setor de atividade sindical: o setor metalúrgico.
Mas nós também sabemos que a existência de inúmeros Sindicatos, a falta do livre Direito de acesso sindical à empresa, associado à falta de organização no local de trabalho e ao negativo papel da Justiça do trabalho, levaram muitas dessas empresas a instalar aqui no Brasil as suas filiais. Até hoje, e apenas com muito poucas exceções, continuamos a sentir a falta do diálogo social e do respeito dos empresários pelos trabalhadores e pelos seus Sindicatos.
Por isso se torna cada vez mais importante a Solidariedade entre os companheiros e as companheiras a nível internacional, para influenciar o progresso dos direitos e a defesa dos interesses recíprocos, juntos das matrizes, bem como a resolução dos problemas do dia a dia de e em cada uma das empresas. O que fizermos pelos outros, resultará também em benefício para nós mesmos.
Com base nisto e com base no trabalho feito a nível local, regional, nacional e internacional, surgiram nos últimos anos algumas Redes Sindicais importantes. Entre elas contamos a ThyssenKrupp, ZF, Daimler, Mahle, Bosch, VW, GM, Rheinmetall, Siemens, Schäffler, Continental, ArcelorMittal e ainda muitas outras.
Essas Redes ajudam-nos, sobretudo na
a) Discussão de Temas, cujos interesses são comuns, e no desenvolvimento de Posições e Estratégias sobre tais temas
b) Preparação e implementação de atividades e de ações comuns (bilaterais, regionais ou internacionais),
c) Troca de Informações,
d) Apoio recíproco, em caso de situações problemáticas (Negociações coletivas difíceis, Greves, em caso de comportamentos anti-sindicais por parte das diretorias de empresas, etc.)
e) Desenvolvimento de Órgãos de Consulta e de Negociação dos representantes dos trabalhadores e Sindicatos, face às Diretorias e Administrações a nível nacional, regional e internacional (sobretudo quando não existem outras estruturas, tais como Representação de trabalhadores, Conselhos de Empresa, etc.).
O papel da Fitim/IndustriALL
Com o contributo de suas organizações filiadas do Brasil – a CNM/CUT e a CNTM/FS – a Fitim – entretanto substituída em 2012 pela IndustriALL-Global-Union (como resultado da fusão das três Confederações mundiais dos trabalhadores da Metalurgia, Química e Têxteis) – elaborou e aprovou em 2009 uma nova forma de sindicalismo mundial, para reforço das formas de atuação a nível local, nacional, regional e mundial, institucionalizando assim as Redes Sindicais.
Horizontalidade – As Redes Sindicais, nacionais, regionais e mundiais – completam e aperfeiçoam, mas não substituem o sistema sindical representativo local, respeitam a verticalidade sindical existente, mas mudam a ótica e o rumo da ação, usando a horizontalidade.
As novas tecnologias – As Redes vivem da moderna tecnologia eletrônica de informação horizontal: o telefone e a internet. Este meio veloz para troca de conhecimentos, documentos e informações, exige, porém, uma sistemática e cuidadosa utilização, uma posição vigilante, crítica e questionadora, pois se trata de um meio acrítico, rápido, impessoal e até perigoso, como o demonstram já alguns casos concretos.
O Papa Inocêncio III, dizia já no séc. XII: “Quod non est in actis, non est in mundo”, o que numa versão moderna, positiva, do séc. XXI significa: “O que está no Google, está no mundo”. Por isso usamos esse meio hoje, também imprescindível e poderoso. No entanto, não podemos esquecer o elo mais forte da Rede, que é o encontro humano, presencial: os encontros regulares dos membros da Rede.
Numa Rede se encontram os trabalhadores de uma empresa/consórcio, de uma ou várias categorias, de vários sindicatos, federações e confederações, de várias centrais, de várias cidades e Estados, para defesa solidária e conjunta de seus interesses comuns.
A transversalidade organizativa da Rede quebra e ultrapassa as fronteiras físicas e sindicais, nacionais e internacionais, solidariza e globaliza a informação e a procura da igualdade dos direitos, cria contra-poder, e procura implementar até o poder repartido.
Para ter poder, ela procura também o seu reconhecimento oficial e a co-participação financeira das empresas/consórcios, já que eles usufruem do papel pacificador da Rede, através da discussão dos conflitos e preparação do terreno, com os RHs, na procura de soluções, na base do diálogo social e se possível da própria co-decisão.
Empresas inteligentes dividem o poder. As outras ditam. A maioria esquece que a divisão do poder não é perda, mas ganho, já que o objetivo não é vencer, mas convencer e solucionar.
As Diretrizes – O trabalho de Redes é feito com base em algumas regras essenciais, emitidas pela Fitim.
Como já vimos atrás, a maioria das Redes começou historicamente na Alemanha, com o objetivo de repartir e conceder poderes e direitos de co-gestão, como os lá existentes. Por isso, a maioria delas existe sobretudo em filiais de empresas alemãs. Mas sua eficiência passa infalivelmente pela necessidade de preparação dos que nelas participam.
Por isso corre já um Projeto de formação bilateral Brasil-Alemanha, até com apoio estatal alemão. Essencial é também uma mudança de comportamento, sobretudo dos responsáveis de RH das empresas no Brasil, alguns de tipo altamente ditatorial, salvo honrosas exceções.
Para que as coisas funcionem, a Fitim assume também sua responsabilidade
Obrigações – As organizações filiadas têm também suas obrigações:
Compromissos – Papel similar cabe aos Sindicatos Nacionais e representações locais:
A Empresa – A própria empresa deverá assumir um Papel de cooperação:
As Condições – O funcionamento das Redes assenta sobre algumas condições:
Os Fins – Objetivo final das Redes é conseguir a aprovação do Acordo Marco Global e a fixação de Direitos universais. Na luta pela aprovação de Acordos-Marco Mundiais, os Sindicatos procuram nada mais do que garantir as 8 Convenções Básicas da OIT, aprovadas por todos os Governos membros, sem um único voto contra.
O Conteúdo – A FITIM formulou Diretrizes claras sobre os conteúdos do AMI.
Chances, Problemas e Condições das Redes:
A importância política das Redes
Termino, chamando a atenção para a situação político-social, vivida no ano de 2011, no Norte de África, e depois também na Europa. Ela mostrou bem como as Redes sociais ajudaram a derrubar ditaduras de longa data no Norte de África e a reunir multidões, de forma rápida num local, para ações de protesto noutros quadrantes.
Por isso, até Estados poderosos estão em alerta. O próprio Palácio do Planalto está de olho na Internet, como relatou a Folha, dia 22 de Agosto de 2011. O Governo quer “ouvir” os usuários de internet e “acolher e estimular “o diálogo. Gilberto Carvalho, Ministro da Casa Civil, afirmou que “o Governo tem obrigação de ouvir a sociedade, e essas são novas formas de expressão”. Que nós usamos! E queremos continuar a poder usar!
Por isso, há uma nova abertura para as novas ferramentas de comunicação, como estratégia de luta pelos Direitos. Mas tudo depende apenas de cada um de nós!
Manuel Campos
Coordenador de Redes Sindicais
IndustriALL- IG Metall
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