“Tudo aparece misturado como em uma horrorosa feijoada fria. Mas, para compreender aquilo que diariamente nos bombardeia, eu sugiro que se divida a crise (pelo menos na sua compreensão) de forma a facilitar as resistências.
A primeira crise é política, onde impera o barata-voa, com a oposição desnorteada (alguns esperando que o mamão caia de maduro e outros sacudindo o mamoeiro) e o governo emparedado (com dificuldades para viabilizar qualquer projeto e recuperar a mínima confiança de uma escassa maioria aritmética).
Junto com ela há a crise que chamo de “moralista”, que se materializa nos sucessivos lances da Operação Lava-Jato, com prisões, delações, investigações, condenações e o que mais seja para alimento dos meios de comunicação, desespero e vergonha dos denunciados e ranger de dentes da sociedade. Nos últimos dias ficou evidente uma operação para tentar “sujar” o movimento sindical como um todo nas águas lamacentas da corrupção e dos malfeitos visando enfraquecer a resistência dos trabalhadores.
Por iniciativa errada do governo foi criada a terceira crise: o ajuste fiscal. Hoje já se sabe que como foi elaborado e implementado, o ajuste é um fracasso. Não há a menor possibilidade de que ele seja completado com êxito antes que a lona do circo das agências de risco caia sobre o picadeiro.
E, por fim, há a recessão. Ela é uma crise monstruosa, que devora empregos e corrói salários, levando os trabalhadores ao desespero e acuando o movimento sindical, obrigado agora a uma luta de resistência depois de anos de protagonismo das centrais sindicais e sua atuação unitária.
Não adianta botar ou tirar qualquer bode da sala, enquanto nela se agigantam essas quatro onças ferozes: a crise política, o moralismo justiceiro, o ajuste fiscal e a recessão. As pintas de cada onça são diferentes, mas são todas onças famintas.
É hora de resistência e nesta hora cresce o papel daquelas entidades sindicais que ao longo dos anos de bonança fizeram a lição de casa e são hoje fortes o suficiente para enfrentar a crise, construir uma nova unidade e apresentar (com seus trabalhadores) novos rumos econômicos corretos para a sociedade”.
João Guilherme Vargas Netto – consultor sindical