Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos

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Argentina quer comprar menos autopeças do Brasil


Janes Rocha, de Buenos Aires

As indústrias de autopeças da Argentina propuseram a seus pares brasileiros uma redução pela metade nas exportações de baterias e de 30% nas de freios e embreagens como resposta à crise que reduziu a demanda por esses produtos. Por outro lado, representantes do governo argentino e brasileiro negaram que estaria nos planos uma revisão do acordo automotivo para beneficiar o setor de autopeças. “Não estamos nem direta, nem indiretamente planejando nenhuma mudança nas regras do acordo automotivo”, afirmou o secretário de Indústria do Ministério da Produção da Argentina, Fernando Fraguio.

Nas negociações que começaram ontem, os argentinos pediram que o Brasil reduzisse de 1,5 milhão para 600 mil o número de baterias exportadas para a Argentina e em 30% o volume de sistemas de freios e embreagens para o mercado de reposição, o que significaria diminuir ainda mais a participação brasileira nesse mercado na Argentina, que é de aproximadamente 10%.

As informações são de Antonio Carlos Meduna, membro do Conselho de Administração do Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças), que representou o setor na primeira rodada de negociação promovida pelos governos na sede do Ministério da Produção em Buenos Aires.

“O número pedido (pelos argentinos) é irreal, mas como há quatro anos estamos negociando, temos certeza que vamos chegar a um bom termo”, afirmou Meduna. Ele explicou que o comércio bilateral de baterias automotivas é administrado desde 2005 e que nesse período, representantes do Sindipeças e da Afarte, a entidade que reúne os fabricantes argentinos, mantiveram 16 reuniões para definir volume do comércio.

Para 2008, o Brasil se comprometeu a limitar suas exportações de baterias para a Argentina em 1,5 milhão de unidades, o que corresponde a 75% da demanda das montadoras de automóveis. O volume acordado foi cumprido, mas este ano, com a forte queda nas vendas de automóveis no fim de 2008, reflexo da crise internacional, os pedidos das montadoras diminuíram significativamente.

Para o primeiro trimestre de 2009, foi negociada a venda de 250 mil baterias que, caso se repetisse pelos próximos trimestres, significaria 1 milhão de unidades no ano, o que já seria uma queda de um terço comparado a 2008. “Mas para nossa surpresa, nos pediram que reduzíssemos as vendas para 600 mil unidades em 2009”, disse Meduna, ou seja, menos da metade do que foi vendido em 2008.

Ele lembrou que esta foi a primeira reunião do setor para renegociação dos volumes exportados e que um segundo encontro já ficou marcado para o dia 7 de abril em São Paulo. “Esses números podem fazer parte de uma estratégia de negociação”, comentou o secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Ivan Ramalho, minimizando o impacto da demanda argentina.

Alem do setor de autopeças, iniciaram negociações ontem os setores de tecidos denin (matéria-prima para confecção de jeans), móveis e vinhos, mas nenhum acordo foi fechado. “Estamos trabalhando com a perspectiva de acordos (futuros)”, disse o secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Welber Barral. “Há boa vontade de todos e há uma preocupação com a previsibilidade (de regras)”, afirmou.