Folha SP
LUCAS FERRAZ
ENVIADO ESPECIAL A SANTIAGO
No dia 22 de agosto de 2010, um bilhete amassado que subiu 700 m pregado a uma sonda que foi até o fundo da mina San José, no norte do Chile, avisou: “Estamos todos bem no refúgio, os 33”.
Era o primeiro sinal dos mineiros soterrados em uma mina no deserto do Atacama. Marcou o início de uma operação de resgate que comoveu o mundo.
Um ano depois, José Ojeda, 47, autor das sete palavras do bilhete, decidiu parafraseá-lo, num ato de protesto: “Não estamos bem, os 33”.
Assim como Ojeda, a maioria dos mineiros não conseguiu se reabilitar após o acidente na mina, quando passaram 70 dias enclausurados sob toneladas de terra, com comida escassa, nenhuma luz, submetidos a alta umidade e a temperatura de 38ºC.
As queixas são coincidentes a quase todos: pesadelos à noite, angústia, debilidades físicas, falta de trabalho e descaso das autoridades.
“As coisas não vão bem”, disse à Folha Omar Reygadas, 57. “Com as lembranças, minha cabeça voltou para dentro da mina.”
Ainda vivendo em Copiapó, cidade no norte do Chile onde está a mina San José, Reygadas conta que sofre de “angústia”. Também não aguenta ficar em locais fechados e diz chorar muito.
“Algumas pessoas acham que ficamos ricos, mas até agora não recebemos nenhum peso”, conta o mineiro, que sonha em voltar a trabalhar numa mina.
Os 33 mineiros não receberam a ajuda prometida. Muitos, como Reygadas, ficaram indignados com o uso indevido de suas imagens. Neste mês, no Chile, uma empresa lançou uma série de brinquedos de plástico deles, o que inclui até a mítica cápsula Fênix 2, que os resgatou da mina.
“O governo prometeu ajuda, trabalho, mas até agora não fizeram nada”, disse à reportagem Jimmy Sánchez, hoje com 20 anos, o mais novo dos 33 mineiros.