Valor Econômico
Por Carlos Giffoni e Diogo Martins | De São Paulo e do Rio
A esperada retomada da indústria neste segundo semestre começou em ritmo lento e concentrada no setor automobilístico. A produção industrial avançou 0,3% em julho, na comparação com junho, feitos os ajustes sazonais, segundo a Pesquisa Industrial Mensal – Produção Física (PIM-PF). De acordo com cálculos realizados a pedido do Valor, o resultado de julho seria uma queda se fossem excluídos os setores mais beneficiados pelo governo.
O setor de veículos automotores cresceu 4,9% em relação a junho, feito o ajuste sazonal. Nas contas da MCM Consultores, com esse desempenho, o segmento contribuiu com um aumento de 0,6 ponto percentual do avanço de 0,3% da produção industrial no mês, informa o economista Leandro Padulla. A LCA Consultores estima que sem os resultados de automóveis e linha branca a produção teria caído 0,5% na mesma comparação.
Esse quadro mostra que a maior parte dos demais setores puxou a produção industrial para baixo. Apesar disso, o índice de difusão do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) foi o maior desde agosto de 2011. Na passagem de junho para julho, a produção aumentou em 44,5% dos produtos pesquisados, e em 12 dos 27 ramos pesquisados. Os números do IBGE ainda mostram que a produção caiu mais em setores intensivos em exportação, prejudicados pela redução das vendas externas.
O resultado positivo de julho é o segundo consecutivo para a produção industrial. Em junho, o avanço dessazonalizado ante maio foi de 0,2%. Na comparação com julho de 2011, a produção industrial brasileira caiu 2,9% e, no acumulado do ano, a queda é de 3,7%.
“Os automóveis vêm puxando a recuperação. As principais medidas de incentivo à produção foram aplicadas a esse setor”, diz Padulla. Ele acredita que o bom desempenho deve, a partir do próximo mês, ser refletido mais claramente em outros setores, trazendo números mais positivos para a indústria. Em julho, houve pequeno crescimento no setor químico e de borracha, e queda na metalurgia.
Flavio Combat, economista-chefe da corretora Concórdia, questiona a força do impulso dado pelo IPI. “Quando o IPI reduzido para automóveis for retirado, haverá uma reversão da tendência de expansão de vendas. Isso porque a produção e o consumo de bens duráveis vêm roubando uma fatia que cabia aos bens semiduráveis e não duráveis.” A comparação dessazonalizada entre junho e julho mostrou um aumento de 0,8% na produção de bens de consumo duráveis e uma queda de 0,6% na produção de semi e não duráveis. A produção de bens intermediários cresceu 0,5% e a de bens de capital, 1%, na mesma comparação.
Padulla destaca que o resultado de bens de capital indica uma retomada dos investimentos. “Essa é a melhor notícia da pesquisa. O crescimento da produção de bens de capital ajuda a formação bruta de capital fixo, que veio fraca no PIB do segundo trimestre [queda de 0,7% na comparação dessazonalizada com o primeiro trimestre].”
Segundo cálculos de Padulla, o setor de linha branca, que também conta com a redução do IPI, contribuiu com uma queda de 0,06 ponto na produção industrial de julho ante junho, feitos os ajustes sazonais. No IBGE, que não faz ajuste sazonal para esse segmento, a avaliação é diferente. O setor ajudou a segurar o fraco crescimento da produção industrial em julho, diz André Luiz Macedo, gerente da coordenação de indústria do IBGE.
A respeito do setor mobiliário, que caiu 3,1% entre junho e julho, na série livre de influências sazonais, o especialista do IBGE destacou que o setor, que integra bens de capital e bens duráveis, teve contribuições diferentes em cada categoria de uso. “O mobiliário teve influência positiva para bens de capital, que são os móveis para escritório. Já nos móveis produzidos para o uso residencial o impacto foi negativo. O mobiliário residencial entra em bens de consumo duráveis e daí vem a queda do setor.”
A queda da produção de alguns setores da indústria de transformação verificada na comparação com julho do ano passado já é reflexo da redução das exportações. Em agosto, houve recuo de 14,4% nos embarques brasileiros em relação a agosto de 2011. A queda do fluxo comercial com a Argentina, devido às políticas protecionistas do governo de Cristina Kirchner, tem pesado nesse resultado, que influencia diretamente as encomendas à indústria brasileira.
Segundo o IBGE, a produção industrial dos setores de alta intensidade exportadora – cujo coeficiente de exportação está acima da média nacional – foi 6,2% menor de janeiro a julho, na comparação com igual período de 2011. A retração é menos intensa entre os setores de baixa intensidade exportadora, nos quais se verifica um recuo de 1,7% da produção nessa mesma comparação.
As exportações de produtos metalúrgicos recuaram 26,9% entre os meses de agosto deste ano e de 2011. Já a produção do setor de metalurgia básica em julho, na comparação com julho de 2011, recuou 4,9%. Outro setor inserido nesse cenário é o de elétricos e eletrônicos, cuja média diária de exportações caiu 4,5% entre agosto de 2012 e igual mês de 2011. A produção de máquinas, aparelhos e materiais elétricos caiu 6,2% na comparação entre os meses de julho de 2012 e de 2011, e a produção de material eletrônico, 20% na mesma comparação.
“A Argentina é um parceiro importante, mas o fluxo comercial com o país caiu 10,7% entre agosto deste ano e agosto de 2011. A produção brasileira do setor de automóveis chegou a sentir essa freada nas exportações e acumulou estoques, mas os incentivos fiscais do governo ajudaram as vendas – e a produção vem retomando. Porém, o recuo no comércio com a Argentina continua impactando negativamente a produção de outros setores”, avalia Mariana Hauer, economista do banco ABC Brasil.